“Não tente” – 20 anos da morte de Bukowski

Túmulo de Charles Bukowski

Comemorar a morte nunca será algo bem visto por todos os tipos de pessoas. Algumas preferem comemorar a vida, mais um ano nela ou suas conquistas, mas os grandes sempre serão lembrados após a morte. Com Charles Bukowski, aqui no Livre Opinião, não poderia ser diferente. Nós nos lembramos de você velho, de seu modo de escrever, suas bebedeiras intermináveis e ressacas diárias, transformando o cotidiano em arte e inspirando gerações.

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Heinrich Karl Bukowski nasceu na Alemanha, em 16 de agosto de 1920. Filho de soldado americano, logo mudou-se para os Estados Unidos em 1923 e firmaram residencia em Los Angeles. Passou por uma infância difícil e, buscando melhor adaptação seus pais adaptaram seu nome para Henry Charles Bukowski Jr. o que não simplificou seus problemas de sociabilidade. Porém a escrita e os livros sempre fizeram parte de sua formação, começando a escrever poesia aos 15 anos. Mas ele só se dedicou exclusivamente a escrita aos 49 anos, e antes disso foi carteiro, açougueiro, entregador, empacotador, montador e outras diversas coisas. Porém sempre esteve escrevendo, poesia em grande parte, e enviando a todos os lugares buscando ser publicado, e ganhar um dinheiro extra com isso. Grande parte de sua produção está publicada em revistas baratas, muitas inclusive pornôs, que foram aquelas que aceitaram seu modo e conteúdo de seus escritos.

Escrever sobre o cotidiano, a vida em subúrbios, sobre bares, alcoólatras, prostitutas e outros não bem vistos pela sociedade só diminuíam a chance de ser publicado mas não deixou de escrever, este era seu modo de fazer e assim continuou a fazer até o fim de sua vida. Isso é o que atraiu, e continua a atrair, uma grande gama de escritores e admiradores, este estilo simples, não formal, que traduz a vida em um estado de pureza único, preservando aquilo que é e deve ser retratada como feia ou até mesmo pior, não maquiando a vida e perfumando a merda. Assim ele diria.

Autor de mais de 50 livros, Bukowski é hoje uma referencia em literatura norte americana, mesmo não sendo bem visto por todos, e é atualmente publicado no Brasil pelas editoras Spectro e L&PM, sendo esta segunda principal difundidora de suas obras graças ao formato ‘pocket’ e os preços atrativos ao leitor brasileiro, publicando seus principais romances, como Cartas na Rua (seu primeiro), Mulheres, Numa Fria e outros, e também livros de contos e poemas. Um poema em especial, “Roll the Dice” (Jogue os Dados) já foi eleito como de maior influencia, e gostaria de compartilhá-lo com você leitor:

Jogue os Dados

Se você vai tentar, vá com tudo
Senão, nem comece.

Se você vai tentar, vá com tudo
Isso pode significar perder namoradas,
esposas, parentes, empregos
e talvez a cabeça.

Vá com tudo.
Isso pode significar ficar sem comer por 3 ou 4 dias
Pode significar passar frio num banco de praça
Pode significar cadeia, menosprezo, insultos, isolamento.
Isolamento é o presente
todos os outros são um teste da sua resistência
de quanto você realmente quer fazer isso.
E você vai fazer
Apesar da rejeição e dos piores infortúnios
E isso será melhor do que qualquer coisa
que você possa imaginar.

Se você vai tentar, vá com tudo.
Não há outro sentimento como esse.
Você ficará sozinho com os deuses
e as noites irão flamejar como fogo.

Faça, Faça, Faça
Vá com tudo, por todos os caminhos
Você cavalgará a vida direto até a gargalhada perfeita
essa é a única boa luta que existe.

Esse poema me acompanhou em diversos momentos de minha vida, quando você pensa que está tudo acabado, que não há saída e a melhor é desistir. Quando você não quer aceitar a verdade, o desafio, a vida, mas tem que passar por ela, tem que passar por tudo isso e continuar, ir até o final.

É por isso que Bukowski tem sua importância, ele traz a verdade, a vida como ela é, e mostra que é possível sair vivo dos mais difíceis momentos, é possível sair com vida do pior dos trabalhos, se levantar após a pior das bebedeiras, se recuperar após um nocaute. Inspirou músicos, cineastas, escritores e artistas de todas as áreas e assim continuará. Bukowski morreu 20 anos atrás, 9 de março de 1994, e deixou lembranças, saudades e uma legião de seguidores, mas, mais que isso, deixou palavras e nelas ele vive.

Filipe Baldin

4 comentários sobre ““Não tente” – 20 anos da morte de Bukowski

  1. Pingback: Charles Bukowski: motivos para ler e não ler – Calandoscópio

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