Foi longa a conversação entre Walt Disney e a escritora australiana P. L. Travers do clássico “Mary Poppins” para finalmente o direito das obras esteja assinado por ela e o estúdio dar sinal verde à produção. Pulso firme e descrente de que sua maior personagem esteja na mão certa para ser adaptada, Travers (Emma Thompson) toma o comando da pré-produção do filme e encara um Disney empresarial e soberbo (Tom Hanks), que tentou durante vinte anos garantir o direito das obras da autora. Este é o cenário do longa “Walt nos bastidores de Mary Poppins”, que estreou nesta última sexta-feira (7) nos cinemas do Brasil.
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O filme retrata a pré-produção do clássico do estúdio, vencedor de cinco Oscar e mantém o sexto lugar na lista de maiores musicais americanos de todos os tempos, do aclamado American Film Institute (AFI). A história da babá voadora rendeu lucros e sucessos para Disney, porém, poucos sabiam o quanto foi trabalhoso lançar a obra cinematográfica nos cinemas.
Interessante no filme é como foram criadas e produzidas as famosas canções de Mary Poppins, assim como os figurinos e cenários que moldaram o clássico. Nota-se também a briga de bastidores na escalação do elenco e, principalmente, os confronto ideológico entre Disney e Travers: ela querendo defender sua invenção e ele visando gerar inovações na sétima arte utilizando o enredo dos livros – a primeira conversa de Disney com Travers, na sala do chefão do Mickey, é brilhante.
O filme com certeza é feito por seus protagonistas, Hanks está convincente como Walt Disney, controlador e meticuloso empresário do poder que o estúdio estava se tornando, porém complica-se na tentativa de adquirir a confiança de P. L. Travers, tendo uma das melhores interpretações de Emma Thompson – infelizmente ignorada no Oscar deste ano – mostra segurança em fazer uma personagem que refuga qualquer intenção de adaptar sua obra, desdenha escutar profissionais de roteiro, canção, figurino e o próprio Disney, tudo para que sua personagem principal não se tornasse piada.
Um ponto interessante da produção de “Walt nos bastidores de Mary Poppins” foi ter sido investido pelo próprio estúdio Disney, no entanto tendo a licença poética de retratar as características do eterno fundador e chefão do estúdio: muito sorridente, sonhador, magnata no tempo áureo americano, quase sem defeitos. É a Disney reverenciando seu criador.
Ponto negativo do filme são os flashbacks da infância de Travers extremamente penosos de aguentar, vidinha mais encantada que um filme de princesa da Disney. Mostrando um pai alcoólatra (interpretado por Colin Farrel) que deu inspiração, na infância, para Travers escrever sua obra quando se tornou adulta. Sequências tediosas e sem necessidades. Se fossem apenas sugestivas a importância do pai na vida Travers o filme seria mais relevante.
“Walt nos bastidores de Mary Poppins” é praticamente um filme família, bem como para uma geração que cresceu assistindo o clássico filme da babá voadora. Sugestivamente, retrata a relação da literatura e cinema, tendo sempre a árdua missão de adaptar uma mídia para outra – uma boa dica de filme que retrata bem este tema é “Adaptação”, de Spike Jonze e escrito por Charlie Kaufman.
Mostrar a pré-produção de filmes que fizeram o imaginário da sociedade é uma boa iniciativa dos roteiristas para repaginar as histórias e relatos das relações industriais dos estúdios de Hollywood. “Walt nos bastidores de Mary Poppins” presta uma homenagem e não aprofunda a conturbada negociação dos direitos das obras de Travers com o próprio Disney, mas abre alternativa para os estudos se autoavaliarem e retratarem as histórias de seus clássicos cinematográficos no decorrer dos anos.
Walt nos bastidores de Mary Poppins (Saving Mr. Banks, 2013)
Direção: John Lee Hancock
Elenco: Tom Hanks, Emma Thompson, Paul Giamatti