A situação autoritária que se estabeleceu no Brasil logo em seguida ao golpe militar de 1964 levou os intelectuais e artistas identificados com o pensamento de esquerda, quaisquer que fossem os matizes ideológicos, a buscar espaços nos quais pudessem exercer a reflexão e a crítica sobre os problemas brasileiros. Essa busca se deu num cenário difícil, de cerceamento das liberdades públicas e de expressão, e num contexto mundial marcado pela tensão política da Guerra Fria.
A Revista Civilização Brasileira, lançada no Rio em março de 1965 por Ênio Silveira, que dirigia a Editora Civilização Brasileira, e pelo poeta Moacyr Felix, se propunha a ser o espaço necessário para aglutinar as forças dispostas a resistir ao regime militar e a pensar criticamente o País e o mundo. A revista teve 22 números regulares e mais três especiais até dezembro de 1968, quando, depois da promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), teve de encerrar suas atividades.
Os textos, de caráter crítico e analítico, tratavam de um amplo espectro de temas. Havia seções permanentes dedicadas a política nacional e internacional, literatura, cinema, teatro, artes plásticas, música, etc. O nº. 4, por exemplo, de setembro de 1965, trazia artigos de, entre outros, Nelson Werneck Sodré (em política nacional e literatura), Ferreira Gullar (artes plásticas), Dias Gomes (teatro) e Jean-Claude Bernardet (cinema), além de poemas de José Godoy Garcia. Esse número ainda trazia, ao final, com o título “Violência contra a história nova”, a íntegra do mandado de segurança impetrado pela Editora Brasiliense contra o oficial militar encarregado do Inquérito Policial-Militar (IPM) que apurava atividades subversivas no ISEB, por ter apreendido, na sede da editora, em São Paulo, vários volumes de um livro de história.
Professores e alunos das universidades sempre constituíram um dos públicos alvos da Revista Civilização Brasileira. Há uma marca significativa obtida por ela que é a tiragem de 20 mil exemplares do número 2, algo impressionante em uma publicação desse tipo, não só para a época, mas até para os dias de hoje.
Mesmo depois de fechada, a Civilização Brasileira continuou sendo referência no meio acadêmico, pois os textos que publicou sempre foram citados em artigos, ensaios e teses. A própria revista já foi objeto de pesquisas. Ficou como testemunha de um tempo difícil mas também rico da história do País, no qual os intelectuais, os artistas e as universidades estavam muito empenhados na discussão sobre a cultura e os problemas brasileiros e na busca dos rumos possíveis.
Para saber mais: CZAJKA, Rodrigo. A revista civilização brasileira: projeto editorial e resistência cultural (1965-1968). Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 18, n. 35, p. 95-117, fev. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782010000100007&lng=en&nrm=iso>
Contribuição de Efraim Oscar Silva (Mestrando do PPGLit – UFSCar)