José Saramago: Quatro anos para recordar

José Saramago (Foto: Fundação José Saramago)

José Saramago (Foto: Fundação José Saramago)

“Escrevo para desassossegar os meus leitores”, assim afirmou José Saramago, o célebre escritor português e prêmio Nobel de Literatura, que neste dia 18 completam-se quatro anos de sua morte. Sua escrita tem o intuito de incomodar a sociedade, assim como entender quais os motivos do mundo contemporâneo estar mais voltado ao caráter individual do Homem e não mais empenhado no envolvimento das causas sociais, acarretando num ensaio à cegueira coletiva.

As narrativas resgatam um olhar distinto da História – oprimida pelo sistema ditatorial salazarista -, do ponto de vista da classe menos favorecida e sem chance de acrescentar sua voz nos documentos históricos. Saramago sempre (re)contou os sofrimentos e dificuldades dessa classe, que reivindica o seu direito de poder depor um mundo em que finalmente possam ser escutados e partilhados de uma ideologia fomentada a uma nação levantada do chão.

Um dos meios que mais me surpreende são suas críticas ácidas, muitas vezes irônicas, ao sistema capitalista e seu modus operandi de segregar classes sociais e de formar cada vez mais conceitos individuais. Saramago rasgou o manto e tirou as máscaras de um padrão que não tinha mais força de perdurar em seu senso comum, consequências de ser um escritor polêmico  em apontar as mazelas causadas pelo Homem do século XX.

Não são só críticas que o mestre Saramago se dedicava, sua vida pessoal esteve centrada no amor, principalmente como inspiração na construção de sua obra. A inseparável companheira Pílar Del Rio foi toda a base de sua sustentação literária e existencial. Um amor que perdurou até a morte do mestre, em 2010.

Em uma de suas últimas entrevistas, Saramago relatou sobre seu mecanismo de vida, partilhando que “nós somos uma máquina, que funciona bem durante um tempo, que depois começa a funcionar menos bem, e chega sempre o dia em que deixa de funcionar”.

Todos os nomes que não são denominados em suas obras acabam sendo nós, uns formados por uma instituição que fornece caráter sem poder questioná-la e outros por se alienar com o som do apito anunciando o começo de expediente. São meios fixados como parte de um sistema que impossibilita debater uma posição critica no mundo onde o poder está na linguagem de poucos. “Um escritor é um homem como os outros: sonha!”.

Esta data é para celebrar o mestre português por meio de suas obras mais que lidas. O importante é lembrar-se de José, não como uma festa que acabou, mas a continuação de formar novas mentes que possam, a partir da leitura de seus romances, formular opiniões críticas e sonhar com um mundo mais coletivo e humanista.

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