Dia de dar pinta!: coletivo de diversidade sexual e de gênero promove ato na UFSCar

5

Dia de Dar Pinta! (Foto: Luana Sacilotto)

Na última quarta-feira, 25 de junho, o Coletivo TRA! de Diversidade Sexual e de Gênero de São Caros realizou o “Dia de Dar Pinta” no campus São Carlos da Universidade Federal de São Carlos. O ato foi em comemoração ao Dia do Orgulho LGBT, celebrado mundialmente em 28 do mesmo mês.

Cerca de 20 pessoas estiveram presentes e percorrem por diversos espaços da universidade, ora entoando palavras de ordem e poemas, ora desfilando ao som de músicas e apitos. Ainda que fazendo militância, o grupo não deixou de lado o bom humor, a simpatia e, claro, a ousadia na composição dos outfits. Pinta não faltou, e muitos dos presentes transgrediram os padrões de gênero. Uma verdadeira legitimação da palavra-chave do coletivo: diversidade.

Em entrevista ao Livre Opinião – Ideias em Debate, Rafaelx Amaral, graduando em Ciências Sociais e membro do coletivo, falou um pouco sobre o TRÁ!:

“O TRÁ! é um coletivo universitário que se propõe a discutir diversidade sexual e de gênero, um coletivo que não só pensado na universidade, mas que se propõe a se construir para fora. Formado por estudantes, ele surgiu depois da participação da UFSCar no último ENUDS (Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual). Nós tentamos acumular discussões, algumas pessoas participam de grupo de pesquisa e, assim, promovemos ações dentro e fora da universidade. Hoje estamos fazendo o “Dia de Dar Pinta”, já fizemos mostras de filmes e festas temáticas”.

Sobre seu surgimento, Bruna Queen-San, também do curso de Ciências Sociais, explicou que ele “surgiu bastante da necessidade de organizarmos um movimento aqui na UFSCar e também na cidade como um todo, que vemos que é bem desmobilizada”. Em específico sobre o “Dia de Dar Pinta”, Rafaelx comentou:

“Essa atividade faz menção ao 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT. Fazemos algumas leituras mais críticas sobre o movimento de gays e lésbicas e propomos construir um movimento que seja menos pautado na identidade e disputas governistas. Então, o ‘Dia de Dar Pinta’ vem com a ideia de incentivar as pessoas a se mostrem na universidade e criar espaços tranquilos de sociabilização dentro da campus, onde elas saibam que a possibilidade de serem coagidas será menor”.

Questionada sobre uma possível dificuldade da livre expressão das diversidades referentes à sexualidade e ao gênero dentro da UFSCar, Marcela Moreti, graduanda em Linguística, revelou:

“Na Área Sul da universidade, onde é a concentração das Humanidades, é mais fácil e comum se expressar. As pessoas julgam menos a nossa postura, nossas posições, as diferentes formas de nos vestirmos e tudo mais. Diferente da Área Norte, onde estão os cursos de exatas e biológicas… Pelos relatos de amigos e conhecidos, vemos que é bem difícil até mesmo sair do armário lá. Mostrar-se do jeito que se deseja nem sempre é tão fácil”.

Sobre preconceito, intolerância e diferentes formas de violência (física, moral, psicológica), Bárbara Bonfim, graduanda da Engenharia de Produção, relata:

“Já é um pouco difícil ser mulher em uma engenharia. E, ainda: mulher lésbica em uma engenharia! Ontem mesmo eu estava dançando com uma amiga no Palquinho e dois caras pertos de nós não paravam de encostar e se esbarrarem na gente. Pedi, educadamente, que parassem. Eles continuaram e eu voltei a pedir, dessa vez mais irritada. Um deles virou e disse ‘adoro quando mulher ficava puta, pode ficar, isso mesmo’. Foi uma agressão muito maior do que ele ter me tocado, esbarrado na gente. Tem tanto significado nessas palavras e no sorriso que ele deu. Ele não se sentiu ameaçado. Se eu fosse um cara de um metro e oitenta, ele não teria respondido daquela maneira. E eu mulher, que estava ali com outra mulher, parecia que não impunha nenhum respeito como pessoa. Também, nós lésbicas somos o máximo do fetiche masculino. Qualquer relação que você tenha é mal interpretada, qualquer palavra que você troque é vista como um flerte. O fato de você ser simpática pode até abrir expectativas de um ménage!”

Nas palavras dos organizadores, “a ação teve como maior objetivo mostrar para outros estudantes LGBT que eles não estão sozinhos, que há grupos em que podem se afirmarem e se reconhecerem. Também, é um recado para toda a comunidade da UFSCar que homofobia ou qualquer outra intolerância sexual ou de gênero não passará”.

Após o “rolezinho das pintosas”, carinhosamente apelidado por quem participou, o coletivo TRÁ! exibiu “Stonewall”, filme de 1995 que figura os conflitos entre a comunidade LGBT e a polícia de Nova Iorque iniciados em 28 de junho de 1969 e que se estenderam por alguns dias. O mesmo 28 de junho que até hoje é lembrado por atos como “O Dia de Dar Pinta”, legitimando a diversidade e relembrando que a luta por igualdade é diária.

A Câmara Municipal, na última sessão do semestre desta terça-feira (24), aprovou  o Projeto de Lei No.1233/14, do vereador Ronaldo Lopes (PT), que institui a “Semana da Cidadania LGBT” e a “Parada do Orgulho LGBT” no Calendário Oficial de Eventos do Município de São Carlos.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Matheus

Publicidade

2 comentários sobre “Dia de dar pinta!: coletivo de diversidade sexual e de gênero promove ato na UFSCar

  1. “não deixou de lado o bom humor”. Isto que me preocupa, pois o “humor” neste contexto normalmente reforça o estereótipo, valida o riso e o deboche contra o homossexual, e por extensão, a homofobia. Normalmente é “um tiro no pé”. Fico a me perguntar : “Porque numa ação de combate ao racismo não se utiliza a ferramenta do “humor” em cima dos estereótipos negros? Parabéns pela ação, mas quero sugerir uma ação sem “humor”.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s