Esse punhado de ossos
Esse punhado de ossos que, na areia,
alveja e estala à luz do sol a pino
moveu-se outrora, esguio e bailarino,
como se move o sangue numa veia.
Moveu-se em vão, talvez, porque o destino
lhe foi hostil e, astuto, em sua teia
bebeu-lhe o vinho e devorou-lhe à ceia
o que havia de raro e de mais fino.
Foram damas tais ossos, foram reis,
e príncipes e bispos e donzelas,
mas de todos a morte apenas fez
a tábua rasa do asco e das mazelas.
E ai, na areia anônima, eles moram.
Ninguém os escuta. Os ossos choram.
O jornalista, escritor, crítico literário e tradutor, Ivan Junqueira morreu nesta quinta-feira (3), aos 79 anos. A notícia foi divulgada pela Academia Brasileira de Letras, em que Junqueira era membro desde 2000. Segundo a ABL, Junqueira teve uma insuficiência respiratória, ele estava internado há mais de um mês no Hospital Cardíaco, no Botafogo.
Nascido no Rio de Janeiro em 3 de novembro de 1934, Ivan Junqueira foi um artista múltiplo. Premiado inúmeras vezes na área literária, Junqueira colaborou em editorações de importantes obras para a educação, como a Enciclopédia Barsa, Enciclopédia Delta Larousse, Enciclopédia do Século XX, Enciclopédia Mirador Internacional e Dicionário histórico-biográfico brasileiro.
Começou no jornalismo em 1963 como redator da Tribuna da Imprensa, seguindo para Correio da Manhã, Jornal do Brasil e O Globo, atuou no ramo até 1987. Foi assessor de imprensa e diretor do Centro de Informações das Nações Unidas no Rio de Janeiro, trabalhou ao lado do escritor Rubem Fonseca na Fundação Rio.
Ivan Junqueira colaborou como ensaísta e crítico literário em revistas e jornais especializados na área. Traduziu importantes escritores mundiais, como T.S. Eliot e Charles Baudelaire, bem como as peças A tempestade, de William Shakespeare e Os justos, de Albert Camus. Junqueira publicou premiados livros, como Os mortos (1964), A Rainha Arcaica (1980), À sombra de Orfeu (1984), O encantador de serpentes (1987) e A sagração dos ossos (1994).
Ivan Junqueira ganhou diversos prêmios importantes e ocupava a cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras, precedida por João Cabral de Melo Neto.
Confira abaixo uma entrevista de Ivan Junqueira para o programa “Leituras”, do canal TV SENADO:
★