
Ariano Suassuna (Foto: Divulgação)
“Era um sonho grandioso, um sonho à altura da estirpe dos Quadernas. No fundo, porém, lá bem longe e bem dentro do meu sangue, reprimido pela covardia, vigiava ainda o desejo de reconquistar o Castelo real, o da Pedra do Reino. Não o de erguer um Castelo poético, como o dos Cantadores; mas o de ir ao Pajeú e retomar, a patas de cavalo, ponta de punhal e tiros de rifle, o Castelo de pedra que era meu e que os Pereiras tinham conquistado. Só assim eu poderia ser, também, Rei do Sertão, como Jesuíno Brilhante e meu bisavô. Só assim eu seria, de fato, o Cavaleiro que, encarnando o Brasil, seria estimado e honrado pelos amigos, temido pelos inimigos e amado pelas mulheres, belas Princesas parecidas com Rosa, a da “Onça Malhada”, e com Marina, a do folheto. Gozaria de todas a meu prazer, tendo as primícias das donzelas e podendo até degolá-las, caso isso me desse na veneta, como tinha dado na do meu bisavô, “o Execrável” (A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, p. 89).
O escritor Ariano Suassuna morreu, aos 87 anos, nesta quarta-feira (23) devido uma parada cardíaca. Suassuna estava desde segunda-feira (21) internado no Real Hospital Português, em Recife, e um Acidente Vascular Cerebral (AVC) o deixou em coma respirando com a ajuda de aparelhos. Suassuna foi um dos grandes nomes da Literatura nordestina, escreveu peças, romances e poesias, as mais conhecidas obras são “Auto da Compadecida” e “A Pedra do Reino”.
Nascido no estado da Paraíba, mas pernambucano de coração, Ariano Suassuna formou-se em Direito, trabalhando por curto período na área. Durante a faculdade, fundou junto com grandes nomes da cultura o Teatro do Estudante de Pernambuco, escrevendo sua primeira peça “Uma mulher vestida de Sol”.
Foi em 1955, com a publicação de Auto da Compadecida, que Suassuna cravou seu nome na literatura nacional. Com um texto inovador para o teatro, Ariano Suassuna mistura elementos da tradição nordestina, elementos de cordel e barroco português. “Auto da Compadecida” é destacado pela genialidade nos diálogos cheios de elementos da oralidade popular e demonstrando uma crítica social. Em 1999, a peça foi adaptada para o formato de minissérie pela Rede Globo, tendo a direção do cineasta Guel Arraes.
Mas foi em 1971 que Ariano lança um marco da literatura: Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta. Uma homenagem à história popular nordestina, Suassuna passa por diversos períodos do país em que utiliza a fantasia e tradição. O protagonista, Quaderna, foi uma homenagem do autor para outro grande nome da Literatura, João Cabral de Melo Neto, que escreveu um livro com o nome do personagem.
Empenhado na preservação da cultura nordestina, Ariano Suassuna criou o Movimento Armorial, que tem como objetivo orientar e colaborar com as diversas formas artísticas: música, dança, artes plásticas, teatro, cinema e literatura. Com o movimento, criado em 1970, a valorização da cultura popular nordestina encontrou importante interesse nacional.
Suassuna foi membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 1990, ocupando a cadeira 32. Ele também ocupou as cadeiras 18 da Academia Pernambucana de Letras e a 35 da Academia Paraibana de Letras. Suassuna ministrava aula-espetáculo para faculdades do país todo, bem-humorado contava causos da época juvenil e da tradição nordestina.
“Não estão dando o filé para o povo, somente o osso. E isso me deixa indignado” (Ariano Suassuna).
Confira a seguir o vídeo da Aula-Espetáculo ministrada por Ariano Suassuna em 2013, no Teatro Nacional, em Brasília, exibida pela TV SENADO:
Tô tentando entender os critérios divinos. Na verdade, acho que estão preparando a maior feira do livro já vista no céu