
Palco da Conferência de Abertura da Flip com Jaguar e os cassetas Hubert e Reinaldo (Foto: Livre Opinião)
Foi realizada, na última quarta-feira (30), a Conferência de Abertura da 12ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) com uma entrevista histórica elaborada pelos Cassetas Hubert e Reinaldo com o cartunista Jaguar. Antes da entrevista também aconteceu a sessão “O Millôr dos Desenhos”, em que o crítico de arte e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Agnaldo Farias, abordou a importância da obra de Millôr nas artes plásticas.
O grande nome da noite, Jaguar, estreou como cartunista em diversos jornais e revistas como Manchete, Tribuna da Imprensa e Senhor. Junto com Millôr Fernandes, fez parte da revista humorística Pif Paf e foi fundador, em 1969, d’O Pasquim, onde permaneceu até 1991, último ano do jornal. No decorrer da carreira publicou inúmeros livros, destacando Átila, você é bárbaro (1968), É pau puro (1982), Ipanema, se não me falha a memória (2000) e Confesso que bebi – Memória de um amnésico alcoólico (2001).
O Livre Opinião esteve presente e acompanhou momentos divertidos da abertura deste ano e destacou algumas passagens marcantes desse encontro histórico em homenagem a Millôr Fernandes.
MILLÔR ARTISTA PLÁSTICO – Durante a análise dos cartuns de Millôr, Agnaldo apontou os traços singulares e bem desenvolvidos pelo artista, comparando com outros grandes nomes mundiais da área, como o norte-americano Saul Steinberg. “A obra plástica do Millôr sofre uma negligência no campo das artes, ela não é vista no Brasil pelo artista que faz por merecer”. Outro aspecto desenvolvido no palco pelo crítico de arte foi a ironia visual utilizada por Millôr em seus desenhos: “Uma maestria total no controle das palavras, trabalhando com as ironias e o que elas podiam provocar… Pensador de maior qualidade”.
Agnaldo ainda destacou o valor de Millôr na área da Arte no país, assim como na atualidade, em que desenvolveu a análise dos últimos desenhos feitos pelo artista, apontando interpretações às temáticas atuais, como a homoafetividade e a utilização da plataforma virtual na construção dos cartuns: “Sabíamos que Millôr não era modesto, ele levava a obra em patamar tão maior que sem dúvida era um artista”.
ENTREVISTA COM JAGUAR – No mesmo palco, logo depois das análises do crítico de arte Agnaldo Farias, os eternos cassetas Hubert e Reinaldo entrevistaram o cartunista e cofundador d’O Pasquim, Jaguar. Grande nome da área no Brasil, Jaguar trabalhou em diversos projetos com Millôr Fernandes, como nas revistas e jornais, destacando O Pasquim. Este como sendo o mais feroz veículo de imprensa na crítica à atitude represaria do governo militar no período da Ditadura no país.
Sempre bem humorado, na entrevista Jaguar comentou sobre a criação do Pasquim: “Eu sabia que todo mundo iria xingar esse jornal, por isso se chamou O Pasquim”. No assunto sobre a perseguição dos militares, Jaguar contou diversas passagens humoradas na tentativa de driblar a censura, uma delas foi o episódio bem divertido sobre o motivo de não terem prendido Millôr: “A repressão prendeu Ferreira Gullar, Paulo Francis, entre outros. Só não prendeu o Millôr porque o camburão estava cheio”.
Sabendo que os militares estavam à sua procura, Jaguar falou da sua “estratégia” de se esconder da prisão: “Flávio Cavalcanti apoiava o golpe militar e adivinha onde fiquei, na casa dele”. “Me entreguei porque o Paulo Francis me ligou falando que todos do Pasquim estavam presos e queriam que me entregasse, o pior é que fui me entregar de táxi… tive até que pagar a corrida”. “Mas antes de me entregar decidi tomar uma cachaça no boteco”.
Sobre Millôr, o cartunista falou sobre a famosa briga entre Millôr e Chico Buarque, muito bem humorado, Jaguar contou “Millôr era complicado, o Chico chegou no Millôr e falou ‘o que você tem contra mim’, Millôr não respondeu, então Chico deu uma cusparada nele, aí o Millôr jogou tudo que tinha na mesa do bar em cima do Chico… inclusive uma moça que tava junto”. Ainda falando sobre o parceiro de trajetória artística, jaguar afirmou: “Millôr era um ótimo escritor, dramaturgo, artista… ele só não era poeta, porque era inteligente demais. Era muito racional”.
Outro momento divertido da entrevista em que a plateia caiu na gargalhada foi quando Jaguar contou algumas situações sobre a profissão de cartunista: “Hoje a palavra cartunista está muito popular. No táxi, o motorista me perguntou: você é cartunista? Respondi que sou. Aí ele falou: “Ah, você é aquele… o Ziraldo. Devolvo: não, sou apenas o outro”. Jaguar também falou de outra situação: “O taxista me perguntou: Você trabalha do quê? Eu falo que sou cartunista, ele ainda questiona o que é, comento que faço bonequinhos e coloco uns balõezinhos, então ele ainda questionou: E além disso, você trabalha?”.
A Flip deste ano começou com humor, deixando bem à vontade os convidados do primeiro dia e levou a plateia em situações de divertimentos com as inúmeras histórias contadas por Jaguar, momentos marcantes que ficarão na história do evento. A Festa está do jeito que Millôr foi durante toda a vida: com bastante humor.
Deve estar muito legal aí.
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