Livre Opinião entrevista Marcelo Drummond: “Está na hora de comer o Zé!”

O ator Marcelo Drummond

O ator Marcelo Drummond

O Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona trouxe ao Sesc São Carlos a peça Walmor y Cacilda 64 – Robogolpe. A peça é baseada na vida e obra da atriz Cacilda Becker e do ator Walmor Chagas, último marido de Cacilda. Na peça, o Teat(r)o Oficina também incorpora elementos de sua própria história como símbolo de resistência e revoluções libertárias (tanto nos palcos como na sociedade) durante a década de 1960 e também hoje, ao interpretar e reler fatos históricos importantes do Brasil.

Com dramaturgia e direção de José Celso Martinez Corrêa, as apresentações aconteceram no Ginásio de Eventos do Sesc São Carlos, no último final de semana. No sábado (20), a equipe do Livre Opinião – Ideias em Debate se encontrou com  o Marcelo Drummond antes da apresentação para um bate-papo com o ator, que interpreta dois papéis importantes na peça: Getúlio Vargas e Walmor Chagas.

Confortavelmente instalado na rede do cenário, Marcelo conversou sobre a peça e a situação do Teat(r)o Oficina. Zé Celso e a Universidade Antropófaga, a situação do grupo e do espaço em São Paulo, as possibilidades do teatro e os próximos projetos, são alguns dos assuntos que vieram à tona. Marcelo também falou sobre Paranoia, seu monólogo baseado no livro de Roberto Piva.

Vamos comer Marcelo Drummond? Leia abaixo.

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Livre Opinião: Acabou-se o ciclo Cacilda, como fica a coisa agora? Esta é a última apresentação do RoboGolpe?

Marcelo Drummond: Não. Tem em São Paulo ainda. A intenção em São Paulo é fazer esta [Walmor y Cacilda] e Cacilda, que já está em cartaz na capital. A gente começa a remontar as outras. Então teremos as cinco de novo.

Vão fazer uma por uma?

É. Será de quarta a domingo. Para o ano que vem, vai depender do projeto.

Independente do projeto, o circuito SESC continua?

Tomara! O circuito do SESC é incrível. É o melhor circuito de cultura do Brasil.

Sobre as esquetes inseridas nas cenas. Um exemplo, todas as peças vocês pegam um fato que aconteceu dois dias atrás e inserem na cena, com improviso. Como funciona?

O Zé [Celso Martinez Corrêa] é um dramaturgo vivo. Pra você ver, já estamos pensando nas eleições. Antes, quando fizemos o Robogolpe era a questão da Copa do Mundo, agora já é o voto. Mas a porrada continua [risos]. A porrada é a mesma, só não é mais na Copa. Agora é “Marina vou eu”, “Dilma lá”. O golpe é outra coisa. Qual é o golpe? Qual é o golpe? O Estado que está aí!

A questão agora, você já deve ter escutado um milhão de vezes e vamos perguntar de novo. É sobre o terreno do Teatro Oficina em São Paulo. Qual é o papo?

Mas é bom falar. O papo é o seguinte, a gente tem uma relação com o governo de São Paulo bem complicada. Muitos falam, dentro do governo e da secretaria, que nós somos do PT [Partido dos Trabalhadores]. Eu não sou de partido nenhum! Do PSDB muito menos. Mas não temos uma posição como eles têm [Governo do Estado de São Paulo].

Começa assim, Ana Lanna [presidente do CONDEPHAAT, Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de SP] libera construir torres do lado do terreno, ao invés de batalhar por um projeto de cultura. Isso porque ela é casada com um arquiteto que é sócio do Marcelo Ferraz, e a gente conseguiu barrar o projeto dele. Quer saber, é um problema de cama. O pau do marido. Ela está batalhando pela pica. O pau da família [risos].

O Oficina está precisando de reforma, aí eles fazem um edital em que a gente não fica sabendo, a secretaria nem comunicou a gente. É só uma questão de comunicação para que possamos acompanhar. Quer saber? Não apareceu um arquiteto.

Boicotaram?

Boicotaram, com certeza! Isso é muito bom, sinal de que as pessoas estão vendo que isso que acontece com o Oficina não está legal. Tem outra, fazer um edital em cima da eleição? Para empreiteira. Sabe, é uma relação estranha. Os governantes nossos são assim. A gente se esbarra com essas coisas.

Aí, tem gente que tenta fazer diferente e toma porrada. Olha o Haddad, coloca ciclovia e toma porrada. As pessoas estão loucas dando declarações que eu fico chocado. Declaração da mulher que perdia a freguesia que aparece com os carrões importados, onde vão parar com seus carros? Enfia no cu, porra! Que que eu tenho com isso? Carro importado de sua freguesa, o caralho? Vem de bicicleta e salto alto. Enfia no cu o carro. Quero lá saber de carro?

Eu sou uma pessoa que anda muito de carro, mas concordo com a ciclovia. O coletivo tem que estar à frente e não o meu individual. Aquelas conversinhas assim: Ah, porque eu pago IPVA, Porque eu tenho carro. Lógico, você paga IPVA porque tem carro [risos]. Tem mais que pagar mesmo.

No final das contas o Oficina esbarra com essas cabeças de São Paulo. Na verdade a gente se choca.

No fim das contas, não aceitaram a troca do terreno com o Silvio Santos?

O Silvio Santos está topando, o problema é a burocracia!

Voltando à peça de hoje. Você faz o Walmor Chagas. Como foi a preparação para o papel? Você o conheceu? Tinha contato sobre a peça com ele?

Conheci! A primeira Cacilda o Oficina fez em 1998 e eu fiz o papel de Walmor. Eu o conheci nessa época. Ele não foi ver Cacilda, falou que não ia e nem queria saber. Walmor disse que não interessava ver uma peça sobre a vida dele [risos]. Walmor gostava da gente. Walmor era muito legal, um cara muito inteligente. Era tão inteligente que não aguentou ficar submisso a uma doença em que ele não podia mais ler e fazer mais nada. Então deu um “teco” na cabeça e pronto!

Como está o projeto da Universidade Antropófaga? Alguma ideia em continuar?

A ideia é chegar até aqui, chegar até o Cacilda. A maioria do elenco de hoje veio da Universidade Antropófaga. Esse movimento criou esta companhia imensa. O que a gente vai fazer daqui pra frente eu já não sei. A gente faz um monte de projetos. Trabalhamos ao quadrado, pois fazemos diversos projetos e não decidimos por qual começar, porque tem que ser um projeto que bata com o momento. Faz o projeto de Shakespeare ou faz do Oswald de Andrade, sei que um desses vai ser. Mas eu não sei como vai continuar a universidade. As pessoas estão aqui, já estão trabalhando conosco. O interessante é as pessoas antropofagiarem o Zé [Celso Martinez Corrêa]. Porque ele é um homem de 77 anos e as pessoas não duram para sempre e o Zé tem muito a ensinar. A partir disso, existe o mestre em que as pessoas podem aprender com ele. A ideia da Universidade Antropófaga é antropofagiar o Zé, comer o Zé. Está na hora de comer o Zé.

Comer e metabolizar o Zé?

Até virar merda [risos].

Algum projeto próximo? E ideia da Tempestade, de Shakespeare?

Tem sim, mas eu tenho um pouquinho de grilo porque o Zé quer que eu dirija. Porque é dita como uma peça de aposentadoria. Sabe, última peça do Shakespeare, soa como uma despedida.

Será?

É. Porque é o papel de um velho e normalmente é um papel que fazem e depois não fazem mais um grande papel. Mas a gente fez O Homem e o Cavalo, acho muito mais engraçado o São Pedro como papel de velho. O Zé Celso arrasa. É perfeito! Eu gostaria mais de fazer Oswald do que Shakespeare.

É o Zé Celso que vai fazer Próspero?

É o Zé que faz Próspero.

Quem faz Caliban?

Ah, não sei. Essas coisas vão acontecendo.

Mas O Homem e o Cavalo teremos esperança de ver ainda?

Sim. Eu prefiro! O problema da peça é a família. As famílias dos escritores querem ficar ricas. O Oswald mesmo acabou com todo o dinheiro da família, deixou todo mundo pobre. Os herdeiros querem ficar ricos e começam a pedir muito dinheiro pra gente. Esse é o maior problema. Além da estrutura de montagem

E o Paranoia tá rolando ainda?

De vez em quando eu tento vender, as pessoas que não querem comprar [risos]. O [Roberto] Piva tem uma legião de fãs. É muito bacana. Mas o Oficina acaba me consumindo também. Então é difícil.

Entrevista: Equipe Livre Opinião

2 comentários sobre “Livre Opinião entrevista Marcelo Drummond: “Está na hora de comer o Zé!”

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