Pra além de todo o caos já conhecido, centro de cidade piora em véspera de eleições. Porém, é interessante. Fui abordado por uns três candidatos a qualquer cargo. Todos na base do ‘pode confiar em mim’, ‘mudança’, ‘renovação’ e aquele banzé de sempre, mesmo que eu já tenha visto a cara de todos, nos mesmos lugares e dizendo as mesmas coisas em outras ocasiões.
Mas quem me tocou foram os cabos eleitorais: aqueles mesmos que seguram bandeira em semáforos, debaixo do sol quente, por trintão ou quarentão o dia. Sem maiores fidelidades que a necessidade, são eles que acreditam de fato no que fazem, não importa a cor da bandeira. Talvez pelo próprio fato de que não dá para levar o palco da vida a sério.
Alguns são taciturnos, outros radiantes, mas todos simpáticos para conversar e dizer as verdades sobre o que estão fazendo. Grana, mes chéries. Eu dou aulas e escrevo textos pelo mesmo motivo, como poderia vender sapatos ou plantar batatas.
Ora. Se os senhores de barba, bigode, cavanhaque e camisa alinhada que me tivessem abordado fossem tão bons quanto os cabos eleitorais que vi hoje, talvez eu tivesse algum motivo para acreditar que o que se passa na política varejista dissesse respeito a algo realmente interessante. A verdade não está nos números que repassam por conselhos de publicitários, nem nos trocentos papeis que rechearam meus bolsos. A verdade está em cada pessoa bonita que vi, dizendo a sério o que pensam de tudo isso, em que pesem suas ilusões ou certezas.
Se eu tivesse visto uma daquelas pessoas pedindo votos para ela mesma, e me pedindo não para confiar, mas para desconfiar e não tomar tudo pelo valor de face, aí eu teria encontrado, realmente, quem importa.