Contos Negreiros? Ô, é coisa fina!

Contos Negreiros (Capa) É livro bom, livro de quem tem o que falar, se quiser não leia. Já começa em página preta, isso aqui é um luto; registro de dor, sofrimento, descriminação. É livro pesado, livro de identificação. Você tá aqui, sua família está aqui e tem todo um povo aqui. Registro de racismo, de preconceito, de luta. É livro de negro, é sobre negros, sobre um Brasil que tem preto no branco e fala da cor escura que incomoda os clarinhos. Você tá entendendo? Tá me ouvindo bem?Recebi essa cópia não faz muito tempo. Um exemplar da oitava edição, chegou até mim através do próprio escritor, depois de uma carona e outra. Com poesia em cima de um banco, falada, declamada, gritada e sentida não só por povo branco. Teve poema sobre o corpo, sobre a mulher negra, amor, putaria e tudo mais. Até dois cantos do livro foram compartilhados pelo próprio autor. O livro não tem contos, já deixo claro aqui; tem cantos. Escritor dá o nome que quer para o que faz, seja conto, canto, texto, prosa. O que for. Ninguém aqui é vendido e tem que fazer o que sinhôzinho quer. Escritor não é escravo de ninguém, de editor nenhum. Tá me ouvindo bem?

Recebi essa cópia não faz muito tempo. Um exemplar da oitava edição, chegou até mim através do próprio escritor, depois de uma carona e outra. Com poesia em cima de um banco, falada, declamada, gritada e sentida não só por povo branco. Teve poema sobre o corpo, sobre a mulher negra, amor, putaria e tudo mais. Até dois cantos do livro foram compartilhados pelo próprio autor. O livro não tem contos, já deixo claro aqui; tem cantos. Escritor dá o nome que quer para o que faz, seja conto, canto, texto, prosa. O que for. Ninguém aqui é vendido e tem que fazer o que sinhôzinho quer. Escritor não é escravo de ninguém, de editor nenhum. Tá me ouvindo bem?

Devo dizer que não fiquei feliz lendo o livro. Não devido ao seu conteúdo, não-não que isso. É coisa boa, coisa de primeira. Tem muito Brasil aqui, tem muito suor, muito sangue e muita sirene. Mas vai que vai. Passa rápido, “A gente lê voando, priu, num sopro” como escreveu Xico Sá na apresentação do bendito. Mas fica tranquilo, ninguém é obrigado a nada nesse livro. Se tu não gosta, é só pular o canto, fechar o livro e por num canto. Ninguém vai ver, pode deixar escondidinho. Mas se deixar a mostra vai chamar atenção, tem negro na capa! Quase pelado ainda, só uma tarja-título para tapar o que madame não quer ver. Que coisa louca Marcelino, como cê faz isso? Como é que tu vende isso nas livrarias de bairro de rico? Vende livro de preto no Jardins? Cara, cê é louco mesmo. Admirei.

Fiquei triste por chegar só agora, o bonde já andou muito. De 2005 pra cá já foi um tempo, heim!? Mas gostei. Gostei. É coisa boa, já falei. Acaba rápido, fica tranquilo, como Xico já disse. Deixo a recomendação numa palavra só: LEIA. Tem muito nego bom escrevendo nesse Brasil. Muitos filhos de Xangô deixando marca preta no papel branco. Ê coisa boa essa literatura da nossa terra. Gostou do papo reto? Arruma logo uma cópia, o escritor é boa gente e você encontra ele em São Paulo na Balada Literária, ou pelo Brasil graças ao projeto Quebras. É só chegar junto, puxar um papo ou já ir logo mostrando o livro que você leva uma assinatura com muito gosto, pode confiar. Mas vai. Vai! Corre lá comprar logo o livro, num vai dá uma de bobo que nem eu e esperar mais umas oito edições. Agora cê já sabe, é coisa fina doutor, de primeira. Ninguém tá aqui para te enganar. Aqui é todo mundo honesto. É sim. Sim, sinhô.

Livro: Contos Negreiros
Autor: Marcelino Freire
Editora: Record
Preço Médio: R$ 25,00

Filipe Baldin

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