Grande nome da inovação musical do movimento Tropicalista, o maestro Rogério Duprat foi um brincalhão, no bom sentido da expressão, da nossa fonografia. A mente por trás dos óculos e bigode grossos demonstraram a experimentação necessária da sonoridade estagnada da época, ainda dependente da desgastada Bossa Nova.
Rogério Duprat, mobilizou a mudança na música, possibilitou a mistura sem cair em clichê ou até mesmo contribuiu para a ardência dos ouvidos – na tentativa de acordar aquele povo ainda no violão e cantar sussurante. Duprat brincou com orquestra e rock. Colocou a voz dos Mutantes em Chiquita Bacana. Bateu certo no bumbo dos loucos.
Mas, pera aí, por que raios estou falando de Duprat? Simples, tudo fica sem controle quando se bota para tocar A banda tropicalista do Duprat, álbum histórico de 1968. Descontrolou os tímpanos e levou para o cérebro o curto-circuito das ideias. E cá estou, falando do grande Duprat, dá licença, vai!
Voltamos ao contexto…
A Bossa viajou para o mundo, seus filhos ficaram órfãos. O oba-oba de Chega de Saudade ficou para os gringos. Aqui, tiveram que aturar a corneta militar, além de aguentar o banquinho e violão alegre dos que aqui ficaram, sendo desproporcional no momento, entende. A bossa literalmente desafinou.
– O que faremos? O que faremos? – Perguntavam os músicos da época.
Calma, o jeito foi se inspirar no esquecido Oswald de Andrade – Ah, se não fosse Antonio Candido para trazer à tona os Modernistas, mas isso é uma outra história – e seu movimento Antropofágico. “Bábaro e nosso”. Pois é leitores, NOSSO!
Esses novos bárbaros surgiram de diversos lugares do país. Caetano e Gil, puxando pela ideia Tom Zé, trazendo a interpretação de Gal Costa, descendo junto a genialidade do piauiense Torquato Neto; da sonoridade elétrica d’Os Mutantes e da maestria Rogério Duprat. Sim, o resto é história!
Duprat comeu toda a tradição estabelecida, mastigou e vomitou tudo em cima do padrão sonoro estabelecido. Colocou – finalmente – a inovação na música. Mandou a companhia limitada pr’aquele lugar. Ousou nas experimentações rítmicas e gerou junto com o nomes citados anteriormente um dos mais significativos movimentos culturais do país: a Tropicália.
A busca de uma identidade musical, pode ser conferida no, talvez, o álbum emblemático – e já citado – da época: A Banda Tropicalista do Duprat. Uma experimentação sórdida para os ouvidos. Sarcástico, diferenciado, barulhento e preciso, o disco ganhou notoriedade e transformou o nome de Duprat internacionalmente conhecido e escutado.
Duprat foi tocar por outras bandas, o maestro faleceu em 2006, mas deixou esse amplo material experimental em nossa história fonográfica. Saravá!
Érico Melo
Rogério Duprat & Mutantes – Canção Pra Inglês Ver/Chiquita Bacana
Rogério Duprat – Baby (Instrumental)
Rogério Duprat – Vida Marvada