
Capa do livro Colcha de Retalhos.
Booktrailers, e-books, audiolivros. Novos suportes cada vez mais comuns para a literatura. Seja para fins comerciais (booktrailer), seja para fins ecológicos, facilidade de leitura ou de diminuição de custos (e-books), verdade é que a literatura e os livros, ao contrário do que muitos podem pensar, dá a cada dia mais sinais de vida. Com os audiolivros não é diferente.
Mais do que uma obra para “preguiçosos” ou para se ouvir fazendo academia, os audiolivros têm se tornado cada vez mais comuns e democráticos, levando obras literárias a leitores antes esquecidos à margem do mercado editorial, como aqueles que têm alguma dificuldade com a leitura e os deficientes visuais.
Leia também “Confiar no texto, habitar os livros”, de Reni Adriano, tem download gratuito.
Há que se considerar que um audiolivro é infinitamente mais fácil e mais barato de se produzir do que, por exemplo, uma transcrição em braile de uma obra literária. Além do mais, há um lado muito bonito no audilivro que é o de resgatar – de certa maneira – a contação de histórias.

Rodrigo Domit
Foi pensando nisso que o Livre Opinião – Ideias em Debate conversou com Rodrigo Domit, autor do livro Colcha de Retalhos. O livro é composto por mais de 70 textos “reunidos para fazer jus ao título”, segundo o autor. A obra conquistou o primeiro lugar no Prêmio Utopia de Literatura em 2010, organizado pela Utopia Editora, de Brasília. Também foi finalista do Prêmio Nacional SESC de Literatura, em 2008, e terceiro lugar no Concurso Internacional da União Brasileira dos Escritores, em 2012. A partir daí, pensando na acessibilidade da obra, Rodrigo teve uma ideia interessante: por que não transformar sua obra num audiolivro? E por que não fazer isso de maneira colaborativa?
O resultado foi uma obra que está disponível, gratuitamente, para download (tanto o áudio quanto o e-book) e também disponível para que qualquer pessoa ou instituição, interessada em realizar algum trabalho de leitura com pessoas com deficiência visual ou qualquer outro trabalho, possa utilizar a obra como pedra inicial na incursão de muitos pelo caminho da leitura. Cerca de 30 pessoas participaram de maneira coletiva na realização do áudio, cedendo suas vozes e sotaques – houve até mesmo participantes de Portugal. Confira abaixo um breve bate-papo com o autor e também os links para ter acesso à obra. Não deixe de compartilhar e passar adiante essa bela iniciativa:
Livre Opinião – Ideias em Debate: Conte-nos um pouco sobre seu livro, Colcha de Retalhos.
Rodrigo Domit: O livro é uma coletânea de textos curtos, no limite entre contos e crônicas, com uma grande variedade de estilos e temas: é uma coleção de 73 textos reunidos para fazer jus ao título.
LOID: Como surgiu a ideia de transformar o livro em audiolivro?
Domit: Eu sempre me preocupei com a acessibilidade da literatura: desde a questão do preço do livro, passando pelos temas tratados, vocabulário e, após algumas experiências junto ao Instituto Muito Especial e, especialmente, após ter conhecido a Fundação Dorina Nowill, fiquei sensibilizado em relação à acessibilidade para pessoas cegas ou com baixa visão. Demorei algum tempo para chegar à ideia da obra coletiva, mas, considerando o conceito da obra, me pareceu bem natural que devia reunir vozes e sotaques distintos.
LOID: E como foi a experiência de um audiolivro coletivo? Você teve dificuldades na realização de um trabalho colaborativo?
Domit: Bom, eu não sou egoísta com o meu trabalho, então, acabei publicando um edital convocando colaboradores: cada um podia gravar e interpretar o texto de sua preferência, da maneira como quisesse, para depois me mandar por e-mail.
A única dificuldade foi para reunir os 73 textos, tanto que eu tive que gravar alguns na minha voz. No total, são 30 vozes distintas, tem até uma de Portugal, que foi a maior surpresa.
LOID: Qual o principal intuito do audiolivro? Alcançar novos leitores como os deficientes visuais?
Domit: São dois os objetivos principais: um é este citado, de promover a acessibilidade à obra para deficientes visuais ou outras pessoas com dificuldade de leitura; o outro, que considero mais relevante, é tentar estimular outros autores e editoras a desenvolver projetos similares, sensibilizarem-se e sentirem-se responsáveis pela acessibilidade das obras literárias. Ainda esta semana recebi notícia sobre um grupo de escritores de Brasília que, inspirados pelo projeto, vão produzir uma antologia em áudio, fiquei bem feliz. Uma obra só não muda um cenário, mas, se a ideia se espalhar, acaba fazendo diferença.
LOID: Você já tem alguma ONG ou instituição parceira para um trabalho com este tipo de público leitor?
Domit: Não, nenhuma parceria. Agora estou fazendo os contatos com instituições, enviando o audiolivro por e-mail e/ou pelos correios e, inclusive, agradeço a todos que puderem compartilhar o projeto ou me repassar sugestões de instituições que poderiam se interessar pela obra.
LOID: A distribuição – tanto do e-book quanto do audiolivro – é gratuita?
Domit: Sim, é tudo de graça. Estão ambos disponíveis no site do livro: http://livrocolchaderetalhos.blogspot.com/
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Para quem estiver interessado na obra ou em realizar algum trabalho de inclusão com ela, a obra pode ser baixada aqui (e-book) ou aqui (audiobook). Se você de alguma instituição e quiser entrar em contato com o autor, pode fazê-lo através do e-mail r.domit@gmail.com ou pelo telefone (47) 9959-5453.
Entrevista: Vinicius de Andrade.