ela puxou o espelho da bolsa,
era só 8 e 15 da matina, um espelho pequeno
que veio
Com o batom que ela também puxou, mas
antes de passar na boca, mexeu insistentemente na franja e no canto
do olho pra
esticar as rugas, como se pudesse mudar qualquer coisa no rosto sendo apenas
persistente.
Queria parecer Bonita, isso
Era certo. Vestiu com cuidado o batom cor de boca. Foi quando na catraca
um homem entrou aos 50. o banco dela era logo o primeiro: o homem
sequer a notou. Passou por ela como se passa por uma
galinha.
A mulher entristeceu, o homem
era um teste. Ela sentia muito medo de ser aquela primeira imagem que via todos os dias de manhã no espelho do banheiro de casa, com a pele amarela, os lábios sem viço, o tempo
passou
e mesmo antes de passar,
ela nunca tinha sido bonita na vida, dela diziam: Que Silvia?
A mulher que o espelho do banheiro vê de manhã não é A mesma mulher que o espelho da bolsa vê de manhã, – ela repetia baixinho pra si.
Vestir o batom é
Vestir batom no peito, também. Muda alguma coisa dentro
depois que uma mulher usa maquiagem. Mesmo feia, alguma coisa
mudou. Era pouco. Era semi invisível. Mas era melhor vê-la com batom do que
vê-la
sen (do)
A mulher se levantou pra descer do ônibus. De calça branca,
sua Bunda
era Ok e desceu sem alarde a ladeira da
esquina. Com o sol que tava, o batom cor de boca não dura mais que 15 minutos. Se beber algo, então,
Pior
e a vida sem ela no ônibus seguiu normalmente.