O Livre Opinião – Ideias em Debate disponibiliza gratuitamente mais um projeto do Selo LOID para a difusão da literatura. O livro Arquitetura do Cais, do poeta Matheus Torres. Com o prefácio assinado pela escritora Isadora Krieger: “A poesia do Matheus Torres é contemplativa. Parece uma paisagem que nos faz o seguinte convite: Vem, sente-se Aqui, observa Agora o teu próprio silêncio, o teu abismo. Sim, assusta, porque é fatal, inevitável. Mas há beleza no inevitável. E por que não ternura?”.
Matheus Torres é poeta e graduando em Letras pela Universidade Federal de São Carlos. Nascido em Piracicaba, reside em São Carlos desde 2011. Arquitetura do cais, publicado pelo Selo LOID, é seu primeiro livro.
SELO LOID – O Selo tem o objetivo de disponibilizar trabalhos ou edições inéditas de novos e consagrados autores da Literatura de forma totalmente gratuita. E tudo isso sem deixar de lado um projeto gráfico e uma editoração de qualidade.
Matheus concedeu uma entrevista ao LOID em que comentou sobre o processo criativo para a construção de Arquitetura do Cais. Confira a seguir:
Como foi o projeto de construção de Arquitetura do Cais? Alguns dos seus poemas ficaram de fora?
O “Arquitetura” surgiu antes mesmo de ser pensado como livro. Desde que me lembro, sempre escrevi, sabe? Mas até eu entrar na faculdade eram essas coisas de adolescente, puro fluxo da puberdade, quando o mundo começa a se alargar e a gente quer abocanhar tudo. Aí, em 2011, comecei a me arriscar no poema por sugestão de uma professora. Desde então, deixei a prosa e as histórias um pouco de lado e me concentrei na busca da minha própria voz como poeta e artista. Nos últimos dois anos, começou a ser recorrente o imaginário marítimo na maioria dos meus poemas e, a partir daí, pensei que talvez fosse hora de organizá-los em forma de livro e dar um tratamento final para eles. Quando sentei para fazer isso, já tinha mais da metade do livro pronto em estado de lapidação. E esse processo fez toda a diferença pra mim. É uma experiência incrível trabalhar na conversa entre um poema e outro e outro e outro até chegar a uma forma coesa e harmônica do que se imagina de um livro. Bom, e sim, alguns poemas acabaram ficando de fora, e foi justamente por tentar alcançar essa harmonia que falei anteriormente.
Outro fato curioso sobre a composição do livro foi que, paradoxalmente à construção do Cais, eu passava pelo desmoronamento do meu último relacionamento. Tudo aconteceu quando o livro estava em fase de revisão e a capa estava sendo produzida pelo Borba. Eu sinceramente quis jogar muita coisa fora, principalmente os poemas inspirados na experiência com essa pessoa. Sentei, respirei e lembrei que naufragar também é preciso. Escrevi um novo poema – o qual acabou se tornando o meu preferido – e inseri ao livro. Nessa hora, finalmente atingi a completude que eu queria para esse trabalho e todos os poemas ali pareciam mais vivos. Afinal, o Caos também constrói.
Qual a sua relação com o mar? Para você, Poesia e Mar são essenciais na elaboração do poema?
E se eu te falar que fui ao mar apenas uma vez? E, ainda por cima, fiquei com um puta cagaço que mal entrei na água, rs. Minha relação com o mar é muito mais poética do que física e só se dá por meio da linguagem. A ideia do mar como múltiplo, paradoxal, inconstante e imenso é a ideia do sujeito cantado por mim. O mar é a gente, no final das contas. E a gente, por sua vez, acaba sendo a experiência. Carregamos tanto ciclones como espuma. Afundamos navios, mas também oferecemos pérolas.
Eu elaboro o poema justamente para atingir a poesia. Acredito que o poema, nesse sentido, é muito mais essencial. Imagina duas orlas, tá? De um lado você e do outro a poesia. Como atingir a outra margem? Através de uma ponte: o poema. É tarefa do poeta o exercício do encontro. Ou do desencontro. A poesia, às vezes, também está no se afogar.
Existem dois polos que, às vezes se dialogm outras não, o poeta utiliza na construção da poesia: Transpiração e Inspiração. Para você, qual está mais na elaboração dos seus escritos?
Particularmente, não consigo desvincular os dois polos. Em uma era que você consome muito e as coisas estão muito mais fáceis de serem acessadas, é impossível não acabar aglutinando referências e se inspirando nelas. Porém, é preciso transpirar também para não se repetir e atingir uma identidade que seja sua. E isso é bem foda quando tudo parece ter sido dito ou feito.
Sempre me inspirei muito na Hilda Hilst e na Sylvia Plath, tenho até fotinha das duas colada na parede do meu quarto. Especialmente para esse primeiro livro, também me inspirei na concisão dos poemas do Beckett e do Manoel de Barros. Misturando tudo, suei bastante até formatar um livro que fosse do Matheus. Acredito que a arte sempre estará entre esse meio, entre esses dois polos. Ora reconstruindo-os, ora despedaçando-os.
Você teve a ajuda de amigos para que Arquitetura… – de capa até revisão -, fosse erguida. Conte-nos mais sobre a contribuição de amigos para o livro.
Ser artista independente no Brasil é bem foda. Fazer arte quando não se nasce em berço de ouro, é mais difícil ainda.
Meus amigos deram o acabamento final para que o livro fosse finalmente concebido. Eu mesmo poderia ter feito tudo, mas nem de longe a qualidade seria a mesma. O Matheus Borba é estudante de cinema e a Marcela Moreti fez linguística, ambos aqui na mesma universidade que eu. Somos amigos há bastante tempo, e nos conectamos principalmente pelos mesmos interesses nas artes. Poder contribuir com eles não foi só pela excelência de cada um no seu devido trabalho, mas também pela ligação que carregamos. Novamente, entra aquela coisa da harmonia. Para além de ser foda bancar um profissional de cada área, eu queria alguém que realmente sentisse a obra do mesmo jeito que eu sentia. O resultado me deixou muito feliz e serei eternamente grato por contar com gente boa pra caralho.
Já o prefácio foi escrito pela Isadora Krieger, escritora lá de São Paulo. Nós nunca nos vimos (ainda!) mas carregamos na alma as mesma indagações, como ela mesmo já me disse. E foi justamente por esse motivo que a convidei para contribuir com o livro.
O poeta do cais, o que espera da navegação de seus poemas por mares literários?
O futuro é sempre um gigante em forma de enigma. Porém, minha vontade é que meu trabalho reverbere sim por outros mares. Mais do que os mares literários, os mares pessoais. Que inspire, indague, desafie, traga paz e traga caos a quem me encontrar. Sendo acessado pela linguagem, é quando me leem que minha existência faz valer a pena.
Entrevista: Equipe Livre Opinião
Ficha Técnica
Realização: Livre Opinião – Ideias em Debate
Coordenação editorial: Jorge Filholini e Vinicius de Andrade
Revisão: Marcela Moreti
Capa: Matheus Borba
Projeto gráfico: Bruno Brum
DOWNLOAD DO LIVRO
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