O Livre Opinião – Ideias em Debate completa neste dia 6 de agosto dois anos no ar. De lá pra cá, diversos momentos marcaram a história do site. Foram inúmeras entrevistas, eventos, artigos, colunistas e, por fim, um festival.
Com um sonho de não deixar extinguir os suplementos culturais do país, o LOID foi criado com o objetivo de proporcionar de um modo mais prático, mas de conteúdo profundo, os diversos segmentos da cultura, com o intuito de construir um debate em que todos possam participar.
Para celebrar este dia, nossa equipe selecionou dez momentos marcantes durante estes dois anos de livre opinião.
A primeira entrevista: Luiz Ruffato
Em setembro de 2013, o LOID com apenas um mês de existência, o site teve o prazer de entrevistar um dos maiores escritores da literatura contemporânea, Luiz Ruffato. O autor participou da abertura da 17ª Jornada de Letras e com bastante simpatia concedeu aquela que se tornou a nossa primeira entrevista para o site, conversando sobre a literatura atual e Eles eram muitos cavalos, livro que marcou a leitura da equipe do LOID.
Para mim, a literatura de qualidade – e não estou dizendo que “Eles eram muitos cavalos” seja literatura de qualidade –, tem uma característica muito específica. Uma delas é a escrita em um determinado tempo em que discute as coisas de seu tempo, mas transcendendo aquele tempo. Ela é escrita em uma determinada língua, transcendendo a sua própria língua. Além de ser escrita em determinado espaço, ou seja, ela está vinculada a um determinado momento histórico. [Luiz Ruffato em entrevista ao Livre Opinião – Ideias em Debate].
Autores Livres
O Livre Opinião sempre foi o espaço para novos autores publicarem matérias e artigos de diversos conteúdos, proporcionando opiniões e colocando em debate questões relevantes para a cultura. Na seção Autores Livres, vários nomes, como os de Lucimar Mutarelli, Marina Filizola, Aline Bei – que também é criadora e editora do incrível site cultural Oitava Arte -, Marcelo Flecha, Julio Bastoni, Giovanna Braz, entre outros, confiaram seus textos no site e publicaram de forma colaborativa em nosso LOID. Nós, da equipe, somos imensamente agradecidos por esse pessoal todo fazer parte da construção do Livre Opinião.
“– procurar a pá de recolher o cocô dos gatos, desistir, usar a normal e, quando começar a limpeza, descobrir que ela estava sempre na mão esquerda
– o mesmo fato acontece com os óculos e é muito comum acontecer com pessoas que usam dois óculos. Um pra longe e um pra perto. Você procura a casa inteira e descobre que estava pendurado no pescoço. Sobre as coisas que estão muito perto e a gente não consegue ver” [Coluna 30, “Pesadelo”, por Lucimar Mutarelli].
“Comigo aconteceram duas cenas recentes que são inacreditáveis. Eu pergunto pra Deus que que eu fiz pra merecer este fardo e tomo uma cagada de pomba na testa como resposta. A questão é a seguinte: eu não sou uma pessoa que dá motivos. Estou sempre na minha. Não caço tumulto. Mas se nego atravessa meu caminho e enfia o dedo no meu olho, eu saco a Adicta-transtornada que vive alojada dentro de mim e aí meu amigo, aí sai de baixo, porque se for pra fazer baixaria, eu vou ganhar de qualquer um.” [Sócio Exemplar, por Marina Filizola].
“Logo cedo pensei em te escrever.
não estou acreditando nesse nosso silêncio de meses, nesse conforto
de ambas as partes em saber que
chega entre nós,
deu. Estamos incrivelmente assentados
no nosso
fim. De pernas cruzadas, bebendo em cima do passado
um chá
de camomila dedo em riste e
se perguntarem se nos conhecemos eu digo
sim, mas
faz tempo
que não o vejo. não faço ideia de como
ele está.” [Célula(r), por Aline Bei].
“Creio que pela idade que me distancia destas, algumas pessoas me chamam de professor. Não sou professor, não tenho licenciatura. Nem, ao menos, curso superior. Tampouco sou intelectual, como arriscam outros mais despudorados e gentis. Me considero um pensador. Penso. Não pensasse, rastejaria. Pensador como você, que pensa por que estou a elucubrar sobre este assunto. Trato-o em defesa do pensamento. Em defesa da presença do pensamento no teatro. Em defesa da reflexão. As recentes experiências sensórias, fragmentadas, desconstruídas, processuais, performateatrais, pós-qualquer-coisa, estão extinguindo o pensamento.” [Penso, logo, resisto”, por Marcelo Flecha]
O encontro com Mia Couto
Um autor que nunca imaginávamos estar próximos, muito menos entrevistá-lo. Mas tudo se tornou realidade quando estivemos frente a frente com o escritor moçambicano Mia Couto. Desde os tempos de adolescente quando lemos Terra Sonâmbula, Mia se tornou um dos autores inseparáveis da redação. O encontro se tornou realidade em setembro de 2014, no Centro Ruth Cardoso, em São Paulo, quando Mia Couto participou de uma mesa de conversa sobre sua carreira. Logo em seguida, o autor fez uma sessão de autógrafos e, bem prestativo, concedeu uma pequena, mas essencial, entrevista para o LOID.
Escrever para mim é uma espécie de… Bom, há pouco me perguntavam como é que eu rezo e eu acho que rezo escrevendo. É uma espécie de aceitação de que a relação com o mundo, e com essa coisa da construção de uma proximidade com o mundo, só pode ser feita por esta via. Como se fosse uma espécie de abertura da porta dos sonhos. E acontece que o sonho pede uma linguagem própria, que não existe. Então é uma tentativa, um esboço que faço para traduzir sonhos. [Mia Couto em entrevista ao Livre Opinião – Ideias em Debate].
Selo LOID
O Livre Opinião mergulhou em um novo projeto, que proporciona uma leitura mais abrangente e de forma gratuita. O Selo LOID, outra empreitada do site para a difusão da literatura. O Selo tem o objetivo de disponibilizar trabalhos ou edições inéditas de novos e consagrados autores da Literatura, de forma totalmente gratuita. E tudo isso sem deixar de lado um excelente projeto gráfico e uma editoração de qualidade. Para o lançamento do Selo, um nome de peso da Literatura Brasileira Contemporânea gentilmente fez parte desta empreitada. O escritor Marcelino Freire, que também é colunista do Livre Opinião, publicou o conto inédito Ricas Secas especialmente para download gratuito pelo Selo. O poeta Matheus Torres publicou o livro Arquitetura do Cais, marcando sua estreia na literatura e recebendo boas críticas. Confira abaixo um poema de Matheus Torres:
Biblioteca Livre
A Biblioteca Livre foi criada para ajudar estudantes e leitores que procuram livros para a leitura na plataforma online. O leitor pode baixar os maiores clássicos da literatura, livros universitários e técnicos, tudo de graça. Todas as obras estão em domínio público e/ou disponibilizadas gratuitamente. Assim, seu download é legal, não é pirataria. Toda semana são adicionados novos títulos ao acervo. Foi gratificante proporcionar este mecanismo para os nossos leitores da página. Sendo uma possibilidade incrível de também promover a leitura.
A primeira entrevista ao vivo: Festival da Pá Virada e Lourenço Mutarelli
Um convite, três microfones, um b_arco e duas amizades que levaremos para sempre: Marcelino Freire e Lourenço Mutarelli. O “Da Pá Virada: Virada Literária Especial”, foi o evento que contou com várias atrações, com lançamentos, leituras, pequenos shows e uma entrevista ao vivo, realizada por nós, com o escritor e autor de histórias em quadrinhos Lourenço Mutarelli.
Foi o meu que trabalho que me salvou dos meus demônios e de mim mesmo. Claro que teve muita terapia, foram 28 anos de antidepressivos e tranquilizantes, mas o meu trabalho é fundamental, então o processo muitas vezes não é tão simples, no entanto, cada trabalho que eu termino fico melhor. [Lourenço Mutarelli em entrevista ao Livre Opinião – Ideias em Debate]
Literatices e outras conversas…
Literatices e outras conversas… é título da coluna mensal de um querido amigo da equipe, Jorge Valentim. A pessoa que sempre confiou em nosso trabalho. Apoiador do LOID em diversos momentos. Desde a uma entrevista a mediação de uma mesa literária. Com conversas e presença garantida na mesa do Mariva’s, Jorge, que além de amigo é o nosso orientador no curso de Letras, decidiu fazer parte da história do site e públicou textos de profunda reflexão da literatura portuguesa e de “outras conversas” da nossa cultura. São textos que conversam com José Saramago, Andrea del Fuego, José Miguel Wisnik e Florbela Espanca.
Toda esta digressão inicial dá-se em virtude de, em junho passado, de 25 a 27 para ser mais preciso, ter ocorrido na cidade de São Carlos o 1º Festival Gaveta Livre, sob a curadoria de Vinicius Andrade, Jorge Ialanji Filholini (organizadores e coordenadores do site “Livre Opinião – Idéias em Debate”) e Fernando Cruz (diretor fundador do“Espaço Gaveta – Centro Experimental de Artes”). Com eventos variados, realizados no SESC São Carlos e na sede do “Espaço Gaveta”, o evento foi um momento único e singular para debater, dialogar e trocar ideias. No que este difere, por exemplo, das já conhecidas feiras de livro? Primeiramente, a total despreocupação com a questão comercial. Daí, a liberdade, expressão contida no título do festival. Se as gavetas estão livres, isto quer dizer que não há uma necessidade imperiosa de que elas só devam ser preenchidas por notas e dinheiro. Isto não quer dizer, no entanto, que qualquer empresário ou mecenas que queira investir em cultura não possa ou não deva dar a sua contribuição. Muito pelo contrário, todo o investimento é bem vindo. No entanto, as pessoas ali reunidas não foram preocupadas em comprar ou vender, mas compareceram querendo partilhar, aprender, dividir e ensinar algo. E isto, tomando de empréstimo um dito popular muito conhecido numa certa rede de comerciais na mídia, não tem preço. [“Quando as gavetas se abrem…”, por Jorge Valentim].
LOID na Flip-2014
Pela primeira vez, o LOID foi até Paraty para cobrir a 12ª edição da Flip, realizada no final de julho e começo de agosto. O escritor homenageado foi Millôr Fernandes. Na mesa de abertura, o cartunista Jaguar contou um pouco sobre a relação de amizade entre os dois durante o período em que trabalhavam n’O Pasquim. Autor convidado para participar de uma mesa oficial no evento, o escritor português Almeida Faria concedeu uma entrevista exclusiva para o LOID, falando sobre a carreira literária. A equipe também cobriu a exposição de desenhos feitos por Millôr, realizada pelo Instituto Moreira Salles (IMS); assim como os eventos Off-Flip.
“Li, por volta dos dezesseis ou dezessete anos, o Fernando Pessoa, sobretudo o heterônimo Álvaro de Campos, que é o mais radical e aparentemente antiliterário. Aquela liberdade da poesia dele teve uma influência muito grande em mim e tentei fazer isso na minha literatura. Minha literatura era uma espécie de manifesto libertário contra todas as opressões, regras, normas sociais e contra a falta de expressão.” [Almeida Faria em entrevista ao Livre Opinião – Ideias em Debate].
Filosofia e cafés com Andrea del Fuego
“Fazia sol naquele dia, naquele dia sol fazia. E com o sol, o calorão a caminho do bairro da Pompeia, em São Paulo. Quatro no carro: Jorge, Vinicius, Luana e Marcelino. Táxi atritando o asfalto, quente. Nós do interior também sabemos o que é calor, dor ardente na pele, mas avante nesta saga paulistana. O que nos levou a esta jornada urbana?” Uma conversa agradável sobre literatura, filosofia, avião, viagem e filhos, com Andrea del Fuego. Um momento marcante junto de uma pessoa afetuosa e inteligentíssima, com obras que fazem parte de nossas cabeceiras. Entre cafés e gravação, um bate-papo descontraído, em que Andrea nos contou sobre o começo de sua literatura, publicando em blogs, até os livros Os Malaquias e As Miniaturas. Saímos de nossa conversa revigorados e com o sorriso marcante da Andrea em nossas mentes. No ano seguinte, a autora fez parte de outro momento histórico do site, a participação da primeira edição do Festival Gaveta Livre, realizando uma mesa incrível.
Eu acho que é liberdade! Liberdade individual que pode refletir coletivamente. O espaço da escrita que se tem no cotidiano, tendo como hábito escrever, te faz conhecer um fluxo mental, vai ficando cada vez mais íntimo da sua voz e vai alinhando com as coisas que já viveu e vai vendo. Isso te dá liberdade, te dá palavra. A palavra é uma ponte entre você e o mundo. A palavra é forte! [Andrea del Fuego em entrevista ao Livre Opinião – Ideias em Debate].
Festival Gaveta Livre
Literatura, teatro, desenhos, música. Tudo em um único evento, feito para festejar todas as artes. São Carlos foi palco da primeira edição do Festival Gaveta Livre. Como o próprio nome diz, a iniciativa é uma união do Espaço Gaveta – Centro Experimental de Artes e do site de cultura Livre Opinião – Ideias em Debate. De 25 a 27 de junho, nomes como os de Andrea del Fuego, Luiz Bras, Isadora Krieger, Le Tícia Conde, Matheus Torres e Marcelino Freire participaram de mesas, lançamentos e recitais, tendo como homenageado principal o escritor Lourenço Mutarelli. Segundo o autor de O Cheiro do Ralo e O Natimorto, que esteve presente na mesa de abertura, no SESC, e acompanhou todo o festival, “ser lembrado pelo meu trabalho na literatura é uma emoção sem igual, sobretudo em uma cidade que tem um movimento universitário tão vigoroso”. O festival teve o apoio do Sesc e da Coordenadoria de Cultura da Universidade Federal de São Carlos (PROEX/CCULT). Mais informações no site http://www.festivalgavetalivre.com.
muito boa essa retrospectiva! Parabéns pelo projeto e pelo aniversário! O Livre é genial.
grande beijo!