O saci se fodeu. Se fodeu o saci. Quer dizer, foderam com o saci. Botaram fogo no bambuzal. Virou prédio com estacionamento. Virou estacionamento o ninho do saci. O saci se fodeu
Foderam com o saci. Fizeram travessuras com ele. Botaram crack no cachimbo dele.
E o saci se fodeu.
Ficou loucão e saiu pulando, numa perna só. Na nóia roubou a bolsa da vovó.
E virou prédio o ninho do saci.
E sem ninho o saci foi morar na rua. E na nóia o saci foi sobreviver na rua. Fizeram travessuras com ele
Mas o saci tem fome e sabe fazer travessuras também
por isso roubou a bolsa da vovó,
por que tem fome. E com fome o saci faz rodamoinho na praça, faz trança no carro, malabarismo na vida. Azeda o dia da madame.
Ele tem fome.
E o crack mata a fome do saci.
E virou estacionamento o ninho do saci E o saci foi fazer malabarismo na vida E botaram crack no cachimbo do saci E foderam com o saci.
E jogaram uma peneira nele lá na avenida principal. Parou o transito. E tiraram o capuz dele lá na avenida central. Parou o transito. E fizeram ele ficar quietinho lá na avenida central, e a madame que estava azeda ficou doce, muito doce, com menos um saci fazendo travessuras, lá na avenida central.
E o saci se fodeu. Se fodeu o saci.
Edmar Neves
Nasceu em Mogi Guaçu e tem 24 anos, estuda Licenciatura em Letras pela Universidade Federal de São Carlos. Tem interesse em Educação Popular e no que se convencionou a ser chamado de literatura marginal, talvez um dia termine um projeto de um livro de contos, se a preguiça permitir. Gosta de cerveja e de conversas sobre a verdade do universo e a prestação que vai vencer.