Quem lembra dos bailinhos que aconteciam nos quintais e na escola? A dança com a vassoura, as meninas encostadas na parede esperando os meninos tirarem pra dançar
Rosaninha me conta que ensaiávamos coreografias no quintal da minha casa. A memória dela, na hora, reconstruiu os passos, a música, a colagem com papel laminado colorido formando um sorvete na camiseta e a faixa na cabeça pra ficar parecida com Olivia Newton John cantando Physical
Antes disso minha mãe fez um conjunto que combinava a calça com o colete. Procurei muito e não achei uma foto com a roupa. Gostava de usar com uma camisa branca de bolinhas azuis e vermelhas e dançava, na frente da TV, imitando Sidney Magal, Gretchen, Xuxa e as chacretes. Nos pés, Melissa com meia listrada e colorida e brilhante
“por isso canta, dança, grita”
Com a Vera frequentava a matinê do Scorpions. Era lindo de ver o início do passinho de um grupo ir se reproduzindo pelo salão todo. Michael Jackson, Madonna, Tim Maia, funk, samba rock e música lenta. Dançávamos tudo. Claro que na hora da lenta vinha de novo aquele constrangimento dos meninos de um lado e as meninas do outro e não tinha nem a vassoura para ajudar no divertimento
Em 1985 fiz um curso de dança com a Sueli Kimura. Minhas primeiras polainas. Centro Cultural do Itaim Paulista. Iniciação ao balé. Lembro direitinho das poses básicas dos pés mas não consigo lembrar que participei da apresentação. A professora até me indicou na foto. Não me reconheço
Logo depois fui estudar em São Miguel e os bailes ficaram mais longes de casa. Foi a vez de Legião Urbana, Titãs, Ira, Paralamas, Ultraje a rigor, RPM, Capital Inicial. Dançávamos loucamente. No pátio do colégio Dom Pedro e nas festas nas casas dos amigos, decretávamos o fim de dançar aos pares, agarradinhos, era a hora de uma dança coletiva e solitária, forte, instintiva. A gente queria só se divertir e cantar bem alto: “temos todo o tempo do mundo”
Bailes de Formatura são os meus preferidos porque tem um roteiro sempre muito certinho: anos 50 e 60, Elvis, Beatles, Jovem Guarda, Abba, Queen, tudo junto e misturado nos anos 70, rock nacional para 80 e nos noventa, a tia para e senta porque não gosta de house, techno, música eletrônica e só volta pra pular no axé, marchinhas antigas carnavalescas ou para imitar as sobrinhas no bonde do Tchan e do Tigrão
Zil, Vânia e Erica me ensinaram o caminho das boates no centro e do Projeto SP. Com elas, mais a Elaine, vieram o momento barzinho e violão onde a gente não dançava mais, só sentava e ficava cantando junto Chico, Caetano, Lô Borges, Almir Sater, Bethânia, Simone e todo o Clube da Esquina. Foram anos mais calmos. Contemplativos. Estava lá para assistir não para dançar
“ainda gosto de dançar, bom dia”
Educação Artística, Unesp, Faculdade de Artes e a Dança nem era mencionada. Nós que fazíamos um monte de festa para dançar a noite inteira, quadrilha, festa do mundo antigo, escória, os temas eram somente pretextos, a gente gostava mesmo era de festa. Louise, Ana Cláudia, Regina e Dri Andrade, testemunhas, cúmplices
1991 trouxe meu par perfeito. Lourenço foi me levar na rodoviária para o casamento da Simone Prato em Fernandópolis. Não conseguimos nos despedir. Dançamos, muito. Ele toca nossa playlist e me arrasta pelo salão. É segredo. Não deixa ele saber que eu contei – carinha amarela sorrindo e piscando sempre, dois corações
Adoro vídeos e apresentações de danças. Sejam elas dos sobrinhos netos ou dos amigos adultos. Nesse momento lembro aquela do menino que se empolga no estádio (obrigada Priscilla Amaral) e outro que, enquanto todas se esforçam para seguir a coreografia corretamente, uma das meninas se destaca porque ela está lá só para se divertir. E isso é dança, pra mim
A Simone Noronha citou numa conversa aquele boneco de ar que decora postos e lojas e, agora, enquanto escrevo, associo com o ato de dançar. Dependendo da música que toca, meu corpo se infla, vibra meu sistema circulatório e eu saio me movimentando do jeito que vem a emoção
No final dos anos 90 fiz outra oficina mas a professora se dizia contra dançar de acordo com o ritmo da música, ela propôs outro conceito, não gostei, fugi. Fiz as pazes com a dança contemporânea na companhia de Vanessa Macedo e Iolanda Sinatra. Dica do Roberto Alencar, outro que dá gosto de ver dançar. Muito mais do que a rima pobre, ver o Beto tão concentrado, dançando, é a prova concreta de que realmente a dança é uma grande linguagem artística e foi completamente ignorada pelos meus professores na graduação. Um exercício e forma de expressão tão prazeroso devia ser disciplina obrigatória, do berçário ao asilo
Tem um vídeo que meu marido sempre lembra e passa pra gente: Chrstopher Walken dançando. Se você gosta de dança, joga no Google e veja agora, uma delícia deliciosa. Mesmo
Lourenço criou uma oficina: aulas de desenho para quem acha que não desenha e de escrita para quem acha que não escreve. Pedi pra Vanessa e para a Iolanda que elas deveriam criar um curso assim. Para quem acha que não dança
Lourenço diz também que desenhar é tipo uma dança quando fala sobre a sua maneira de conduzir o pincel. Prefiro escrever a mão para desenhar as palavras. Desde criança tenho uma mania de colocar um fio de cabelo na ponta da caneta e brincar com ele no papel. É lúdico. Terapêutico, sempre
Em 2004, colegas do Colégio Etapa me levaram para conhecer a Trash e, desde então, descobri o meu lugar para dançar
Abraço a Amanda e cantamos unidas: “sempre em frente, não temos tempo a perder”
Paro um momento: água, recuperar o fôlego que obviamente aos 46 anos não é mais o mesmo e procuro no corpo das pessoas aqueles que estão lá pelo mesmo motivo que eu. Olho em volta e conto que a maioria tem mais de 30, na cabeça, 16
Dançar para se reencontrar com quem você era na infância e adolescência
Danço comigo
Um dorflex antes. Um dorflex depois
Ninguém precisa saber disso
“o mundo vai acabar e ela só quer dançar, dançar, dançar”
Estupenda! Como sempre! Claro que esse tema me encanta mais que muitos, vc sabe! Corri ver no google aquele ator maravilhoso, nunca pensei que ele dançasse! Amei, amei, amei! Recordar é VIDA!