Coluna 40: ‘Prelúdio’, por Lucimar Mutarelli

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hoje eu acordei no inverno

porque tem dias que a gente acorda fria, com a pele descascada, seca e sem uma palavra

como eu faço pra chegar as quatro estações?

tem dias que acordo toda florida, bem hidratada, adubada, mergulhada em terra boa, verde esperança

tem dias que acordo andando sozinha numa tarde de outono, pode ser na paulista, no itaim, em paris, na praia, preciso

pode ser sozinha ou em boa companhia, depende do dia

– para de ser besta, menina. Quem gosta de andar com má companhia?

tem gente que gosta. Porque nem tudo que é bom pra mim é bom pra você e vice versa, ela diz

nem sempre

estava contando pra uma amiga sobre a sua evolução

ela perguntou se eu colocava música pra você ouvir. Eu disse que cantava e, quando a emoção não deixava, eu colocava músicas da minha playlist

na hora lembrei de uma aula na faculdade sobre instrumentos de corda, percussão e sopro. As cordas vibrariam diretamente no cérebro, estimulando as áreas atingidas

mais artigos no google e a participação brilhante do meu marido, o maior apreciador de música erudita do meu convívio. Pedi a ajuda dele para variar meu repertório de mpb, roberto e legião urbana e todo pop rock nacional e internacional que sempre me acompanha

ele receitou Philip Glass e Yo-Yo Ma. De brinde, deu Vivaldi, Mozart e Bach

assim é meu namorado marido, faz sempre mais, vai além, enxerga tudo o que eu não sei bem antes de mim

toda esta introdução para contar que minha irmã madrinha estava dormindo com uma expressão muito séria, contida e, aos primeiros acordes, ela abriu os olhos e sorriu aprovando

tudo isso para reforçar não somente o efeito terapêutico da música mas também da arte em geral

a companhia de um livro, de uma pintura, de um filme, uma história em quadrinhos ou um grafite no centro são capazes de transformar magicamente a energia de um dia que não começou direito

amo este mundo contemporâneo onde qualquer um pode ser pintor, escritor e crítico

todo esse acesso a informação aqui, na palma da nossa mão, abre a mente os olhos a pele e o elefante que levanta de cima do peito, te faz olhar pela janela, para o outro, para fora e independente do sol ou da chuva, te faz levantar e insistir mais um pouco

mesmo que ninguém esteja vendo, mesmo que ele não te elogie, mesmo que ele não reconheça o seu valor, o que importa é que você está fazendo

e de forma egoísta e particular, sempre o que permanece é a gente estar bem neste momento porque, da mesma maneira que um midas emotivo, você toca o outro e passa essa emoção pra frente

quer filme mais autoajuda do que “a corrente do bem”?

é tipo isso. Primeiro a gente se ajuda, levanta, fica em pé, depois parte para tentar ajudar o outro

nunca é pouco

nunca é em vão

nunca é sozinho

sempre é bom ver um sorriso no seu rosto mesmo que seja um espasmo mesmo que seja rouco e torto, ainda é um sorriso

seguimos

continuamos

nos juntamos aqueles que desistem sim, às vezes, mas renasce e começa tudo de novo

primavera verão inverno outono primavera

tipo isso

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