Suzana Amaral (Foto: Marina Bitten)

Uma língua para a crise. Para quem não acredita que a gente se levanta. E vai à luta.

Língua para quem acha que festa literária nasce da vontade burocrática. De um escritório frio. Longe da rua.

Aqui, ó.

Uma língua para quem sofre de cansaço. Vive sem amor. Só. Não vai além do eixo Rio/São Paulo. Não vê que há teimosia e arte em toda parte do país.

Mil poesias.

Língua e mais língua. Para os corações quadrados. Os coxinhas. Os reacionários. Os preguiçosos. Para quem torceu contra. Para quem torceu o nariz.

Nossa língua é outra. São línguas irmãs. Vindas do extra-além. Molhada em Porto Velho. Macapá. Vitória. Manaus. Brasília. Goiânia. Belém. Salvador. Aracaju. Todas as Quebras.

Do Sertão do Pajeú.

A língua do índio. Do negro. Do gay. A língua trans. Matrix. A língua Muribeca. A favor dos descamisados. Na defesa dos mais fracos. Língua Severina.

Língua Suzana Amaral. Homenageada da Balada Literária que acaba de acabar. Ela. A dona da língua da fotografia lá de cima. A língua guerreira. A língua de muitas Macabéas. Dessa gente brasileira.

Língua rap. Repente. Paulistana. A língua do improviso. A língua da resistência. Sempre em Estado de Poesia. A língua da Diáspora. Retirante. Língua afrocubana. Língua do mestre Aleluia.

A língua coletiva. Que ninguém cala. Nem Belo Monte. Nem Taboão. Nem Mariana. A língua Clariana. Mattosiana. A língua Macalé.

Língua de Mariposa. Super Sub América. A Língua da Alaidenegão. Língua Conceição Evaristo. Maca. Baby do Brasil. Língua Leão de Pernambuco.

De todos os cantos. E cores. A língua do afeto. Da gratidão. Da amizade. Dos amores. A língua que nos inspira a continuar acreditando. Pelos próximos dez anos.

Doa a quem doer. Apesar de tudo.

É esta a língua que falamos.