
Espetáculo é fruto de dois anos de pesquisa sobre loucura e contrapõe o corpo socialmente invalidado ao corpo socialmente produtivo. Imagem: Raphael Poesia/Divulgação.
Com apresentações nos dias 04, 05, 06, 11 e 12 de dezembro, na Casa de Cultura de Santo Amaro, o espetáculo Sociedade dos Improdutivos, da Cia. Sansacroma tem direção de Gal Martins e é o resultado de dois anos de pesquisa teórica e de campo sobre a loucura.
O questionamento central do espetáculo contrapõe o corpo que é socialmente invalidado ao corpo que é socialmente produtivo. O primeiro é marginal portador de algum tipo de loucura. O segundo é medicado, incluído e sujeitado ao modo de vida capitalístico – corpo explorado até o esgotamento das suas capacidades produtivas.
Trata-se da invalidez da reprodução. Força invisível chamada de loucura, transcender coletivo. A não-adequação social produtiva. É solidão. É a história, um itinerário da loucura em fusão para um embate contra o capital. O controle ocidental contrapondo a corporeidade do imaginário africano. São vozes potentes, negras, de territórios e seus povoamentos. Um cotidiano dos que estão à margem e dos que não estão. São vozes da “Sociedade dos Improdutivos”.
A pesquisa
O trabalho de pesquisa teórica da companhia foi um consistente estudo sobre a história da loucura no ocidente. De Hieronymus Bosch, Pieter Bruegel, Erasmo de Roterdã, passando pela Nau dos Insensatos, de Sebastian Brant, até o conceito de Biopoder de Michel Foucault, pelo pensamento junguiano que inspira o trabalho da psiquiatra Nise da Silveira e pelos paradigmas que norteiam a Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial no Brasil.
A pesquisa de campo foi realizada inicialmente através de 12 intervenções artísticas junto aos usuários do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) Jardim Lídia, que fica no Capão Redondo. E se estendeu por meio de um vínculo entre a companhia, os profissionais de saúde e os usuários deste Caps, direcionado a outras atividades artísticas na Fábrica de Cultura Capão Redondo.
Essencialmente implicada com as questões políticas e minoritárias, a companhia observou a maioria de corpos negros e periféricos presentes tanto nos manicômios do passado, quanto nas atuais unidades dos Caps.
Não por acaso, no momento em que a Sansacroma decide imprimir a força de sua negritude e ultrapassar a concepção dominante ocidental sobre a loucura, o encontro com o continente africano acontece pela narrativa da pesquisadora Denise Dias Barros e sua publicação “Itinerários da Loucura em Territórios Dogon” (Casa das Áfricas, 2004). Nesta região do Mali, a vida de cada um se dá na continuidade ancestral e se produz na malha social, constituindo redes de convívio na intersecção entre o mundo invisível e visível.
O recorte coreográfico da etnomedicina Dogon desconstrói o olhar eurocêntrico da loucura e redimensiona o espetáculo. Um novo panorama se abre aos saberes ancestrais. Tradições que interferem diretamente nos procedimentos terapêuticos, criando uma tessitura complexa, onde a figura dos adivinhos, ou marabus, são elementos principais no processo de cura, na reapropriação do si, da saúde, da autonomia e da liberdade.
SERVIÇO:
Espetáculo Sociedade dos Improdutivos
Cia. Sansacroma
Direção: Gal Martins
Espetáculos dias 04, 05, 06, 11 e 12 de dezembro, sexta e sábado às 20h e domingo às 19h, na Casa de Cultura de Santo Amaro – Manoel Cardoso de Mendonça, à Praça Doutor Francisco Ferreira Lopes, 434, São Paulo, Telefone: 11 5522-8897
Entrada franca
Duração: 50 minutos
Classificação etária: 14 anos
Capacidade: 40 lugares