Durante dois dias o grupo Club Noir toma conta da Sala Itaú Cultural, com textos dos dramaturgos Henrik Ibsen e Jean Genet, com direção de Roberto Alvim, para falar sobre tabus como religião, corrupção, incesto, eutanásia, jogos sexuais; no programa complementar Camarim, antes de um dos espetáculos, uma das atrizes do elenco Juliana Galdino é entrevistada pelo crítico de teatro Valmir Santos, em conversa aberta
A companhia Club Noir participa duplamente do Terça Tem Teatro do Itaú Cultural, seguindo com a comemoração dos seus 10 anos de existência iniciada no segundo semestre de 2015. Acompanhando as mudanças no programa de cênicas do instituto, que agora oferece a possibilidade de exibição de peças em outros dias da semana, além das terças-feiras, o grupo apresenta Fantasmas e O Balcão, nos dias 23 e 24 de fevereiro (terça-feira e quarta-feira), respectivamente. Os elencos são compostos por Guilherme Weber, Pascoal da Conceição, Mário Bortolotto, Luísa Micheletti, Juliana Galdino, Renato Forner, Diego Machado, Taynã Marquezone, Vinicius Tardelli e Arthur Rangel.
Ainda, a atriz Juliana Galdino, intérprete de personagens em ambas as montagens, é entrevistada pelo jornalista, crítico e pesquisador de teatro Valmir Santos. A conversa acontece no Camarim, programa no qual os atores convidados da semana do TTT contam seus processos de criação momentos antes de entrar em cena. O público que participa do encontro automaticamente recebe um ingresso para assistir à peça. Todas as atividades contam com interpretação em Libras.
Fantasmas
Escrita por Henrik Ibsen, em 1881, e dirigida por Roberto Alvim, Fantasmas é considerada por muitos teóricos a primeira tragédia moderna da história do teatro. Encenada no dia 23, às 20h, no instituto, um dos principais temas abordados pelo escritor no espetáculo é o peso que sistemas dogmáticos exercem nas vidas das pessoas, colocando o tabu e a religião em um embate apocalíptico. Na época em que foi lançada, Fantasmas foi um escândalo e o espetáculo foi proibido em diversos países da Europa.
A peça se desenrola como um pesadelo sobre religião, hipocrisia, corrupção, loucura, incesto e eutanásia. Na mansão da Sra. Alving, em uma atmosfera de sexualidade reprimida, digladiam-se personagens como o pastor corrompido pelo dinheiro; o mestre-de-obras disposto a prostituir a própria enteada; mãe e filho imersos em uma relação erótica perversa. A casa, outrora familiar, se transforma na morada dos piores medos e dos desejos inconfessáveis.
Segundo Alvim, a peça reflete parte do que acontece no atual cenário político e social brasileiro: “Estamos em uma época de recrudescência de fundamentalismos religiosos, o que é um tema de implicações radicalmente políticas em nosso tempo. A questão que se impõe é por que precisamos desesperadamente de normas de conduta determinadas por religiões institucionalizadas? ”. Para ele, essa obra-prima de Ibsen mostra que a humanidade sempre teve uma imensa dificuldade em lidar com sua sexualidade e com os caminhos imprevisíveis, surpreendentes e dilacerantes do desejo.
Para dar vida aos personagens de Ibsen, o diretor buscou um elenco que, em suas palavras, é quase uma utopia realizada. “Sempre tive o desejo de trabalhar com Guilherme Weber, Pascoal da Conceição e Mário Bortolotto. Esses três nomes possuem trajetórias notáveis no panorama do teatro brasileiro junto à Sutil Companhia de Teatro, ao Teatro Oficina e no grupo Cemitério de Automóveis”, explica. A eles somam-se Juliana Galdino, que fundou com Alvim a companhia Club Noir, e Luísa Micheletti, atriz da Cia há dois anos.
O Balcão
No dia seguinte, 24, também às 20h, é a vez de O Balcão ser levado ao palco da Sala Itaú Cultural. Neste espetáculo, Alvim faz releitura da obra-prima lendária do dramaturgo francês Jean Genet. A montagem se passa na casa de prostituição de Madame Irma, interpretada por Juliana Galdino, onde as fantasias são instauradas em estranhos e violentíssimos jogos sexuais. A questão crucial é que, para Genet, o prostíbulo é uma metáfora do mundo inteiro, o que confere à obra uma implacável lucidez acerca da lógica de operação das instituições na sociedade. Enquanto os homens frequentam o bordel e propõem jogos sexuais perversos nos quais encarnam as principais instituições de poder, como a Igreja, o Tribunal, o Exército e a Polícia, uma rebelião popular acontece nas ruas, ameaçando a estabilidade social.
Além das atrizes Juliana e Luísa, componentes dos elencos das duas apresentações, nesta o time é complementado por Renato Forner, Diego Machado, Taynã Marquezone, Vinicius Tardelli e Arthur Rangel.
Camarim
Quatro horas antes de contarem a história de Genet aos espectadores acontece o programa Camarim, novidade na programação de teatro deste ano. A convidada do dia é Juliana Galdino – também vencedora do Prêmio Shell 2002 de Melhor Atriz por seu trabalho em Medéia, sob a direção de Antunes Filho –, que será entrevistada pelo jornalista, crítico e pesquisador de teatro Valmir Santos. No bate-papo, aberto ao público, ela fala sobre a preparação do artista antes do espetáculo, o processo de criação, o local onde o ator se monta, se desmonta, se entrega para a sua arte antes de subir ao palco.
SERVIÇO
Terça Tem Teatro
Com a companhia Club Noir
Direção de Roberto Alvim
Fantasmas
Texto: Henrik Ibsen
Elenco: Guilherme Weber, Pascoal da Conceição,
Mário Bortolotto, Luísa Micheletti e Juliana Galdino
Dia 23 de fevereiro (terça-feira)
Às 20h
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 14 anos
Sala Itaú Cultural
247 lugares
Entrada franca (ingressos distribuídos com 30 minutos de antecedência)
Interpretação em Libras
Camarim – Bate-papo com a atriz Juliana Galdino
Dia 24 de fevereiro (quarta-feira)
Das 16h às 18h
Mediação do crítico teatral Valmir Santos
Classificação Indicativa: Livre
Sala Multiúso (50 lugares) – aqueles que participarem do encontro automaticamente
receberão um ingresso para assistir à peça O Balcão, apresentada no mesmo dia, às 20h.
Entrada franca (ingressos distribuídos com 30 minutos de antecedência)
Interpretação em Libras
O Balcão
Texto: Jean Genet
Elenco: Juliana Galdino, Luísa Micheletti, Renato Forner, Diego Machado,
Taynã Marquezone, Vinicius Tardelli e Arthur Rangel.
Dia 24 de fevereiro (quarta-feira)
Às 20h
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos
Sala Itaú Cultural
247 lugares
Entrada franca (ingressos distribuídos com 30 minutos de antecedência)
Interpretação em Libras
Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho
R$ 10 pelo período de 12 horas.
Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural: 3 horas: R$ 7;
4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
Acesso para deficientes físicos
Ar condicionado
Itaú Cultural
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