dez anos
e a praça que a gente se beijava não envelheceu.
nem os restaurantes,
o mesmo feijão naquele mineiro,
a mesma pizza no maria joão, o embu das artes sábado à noite segue tranquilo naquela mesa de rua que a gente jantou,
lembra?,
a mudança é que agora o dono
é o filho.
a calcinha branca que eu usei e sangrou não existe mais.
cortei com tesoura e joguei no lixo que a mancha não saiu com sabão, senti medo de Descobrirem.
seu pau era enorme para uma menina que nunca viu, seu carro era
roxo e pequeno, coube a gente,
sentei esperta no seu colo mais velho.
no cinto ficou meu cheiro por um tempo eu passava muito perfume
pra te ver.
de resto
não lembro dos nossos
detalhes, mas guardo em mim que eu gostava
das nossas bocas juntas.
dez anos e seu olhar permaneceu intacto, especialmente o jeito
de me olhar.
a música ainda faz você pulsar
o disco de jazz que você me deu também não envelhece, o contrário,
está uma criança quando coloco no rádio e lembro daquela manhã que conversamos antes da minha viagem a primeira vez de avião.
o teatro também ainda me faz
pulsar de outro jeito agora, nas letras das histórias que escrevo e vivo.
eu queria te explicar isso
com calma, mas
não temos tempo
agora você tem
família, não pode
se atrasar.
há dez anos você tinha música pra cantar pra mim e nenhum relógio,
hoje sei que te amo quando a gente conversa rápido pelo telefone perguntando se tudo está bem.
naquela época não, eu pensava que amor era jeito de ficar alegre e só,
sorríamos colados
seu peito um apoio
satisfeitos mas nem tanto já que um dia
acabou.