Aline Bei: Ainda mor(r)o na mesma casa

dez anos

e a praça que a gente se beijava não envelheceu.

nem os restaurantes,

o mesmo feijão naquele mineiro,

a mesma pizza no maria joão, o embu das artes sábado à noite segue tranquilo naquela mesa de rua que a gente jantou,

lembra?,

a mudança é que agora o dono

é o filho.

a calcinha branca que eu usei e sangrou não existe mais.

cortei com tesoura e joguei no lixo que a mancha não saiu com sabão, senti medo de Descobrirem.

seu pau era enorme para uma menina que nunca viu, seu carro era

roxo e pequeno, coube a gente,

sentei esperta no seu colo mais velho.

no cinto ficou meu cheiro por um tempo eu passava muito perfume

pra te ver.

de resto

não lembro dos nossos

detalhes, mas guardo em mim que eu gostava

das nossas bocas juntas.

dez anos e seu olhar permaneceu intacto, especialmente o jeito

de me olhar.

a música ainda faz você pulsar

o disco de jazz que você me deu também não envelhece, o contrário,

está uma criança quando coloco no rádio e lembro daquela manhã que conversamos antes da minha viagem a primeira vez de avião.

o teatro também ainda me faz

pulsar de outro jeito agora, nas letras das histórias que escrevo e vivo.

eu queria te explicar isso

com calma, mas

não temos tempo

agora você tem

família, não pode

se atrasar.

há dez anos você tinha música pra cantar pra mim e nenhum relógio,

hoje sei que te amo quando a gente conversa rápido pelo telefone perguntando se tudo está bem.

naquela época não, eu pensava que amor era jeito de ficar alegre e só,

sorríamos colados

seu peito um apoio

satisfeitos mas nem tanto já que um dia

acabou.

 

alinebei

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