no parto
depois dos longos meses gorda engordando o peito, o leite, as coxas e o sexo ficou esquisito
eu imaginava o pinto na cabeça do bebê e me dava vontade de chorar.
Parávamos,
fomos parando até que
desistimos.
agora vai demorar uns três anos pra gente transar em paz de novo mas acontece de se desapaixonar no meio disso uma vizinha
Simpática,
no meio disso a professora da academia, no meio disso
seu sucesso profissional, viagens,
cidades com mulheres bonitas de um jeito que você nunca viu. pra mim
Não,
estarei ocupada cuidando da criança que fizemos juntos, 1 criança
que cresce e pode morrer antes de mim, pode morrer depois. pode ser um monstro
deformado por dentro ou por fora, vou cuidar de todo jeito daquele amontoado de pele que olhando de longe dá um ser
humano que não pediu pra nascer e reparando assim de lado
não é que o danado parece um pouco comigo?
Logo
ele virará a língua que fala e pegará uma gripe daquelas que eu também vou pegar. depois ele vai querer roupa, refrigerante, amiguinhos em casa e eu
Morta
com a teta rachada que nunca mais viu outra boca se não
A do bebê.
um dia amamentando
o bico sentirá tesão.
a mãe discreta
colocará a mão no ventre e
gozará rápida
com a palma toda: o bebê de sono no rosto nunca saberá o que fez.
– não quero ser mãe.
te respondi pensando em tudo isso depois que você me perguntou daqui uns anos quais são meus planos.
nos seus olhos eu vi a Grávida dormindo
de lado na cama esquecida, o marido duro vivendo normalmente seus anseios de pica.
– Não,
não quero.
Daqui uns anos talvez você mude de ideia, te ouvi dizer.
mas no Talvez é tanta coisa que cabe,
se vamos brincar de E Se
talvez eu morra antes
talvez você
talvez eu ganhe um cachorro e me ocupe, talvez eu fique famosa e não tenha tempo porque o tempo passa biologicamente pro útero ou talvez
eu decida
que prefiro mulheres no amor e adote uma criança feita por 2 pessoas que não aguentaram o Tranco e
desistiram. há também a possibilidade
de eu não mudar de opinião.
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Ótimo texto! Li e deu vontade de mais.