criação
I
implodiu algumas pedras no meio do meu corpo rochoso
e plantou, ali, um coração
II
cascata vermelha desabando silenciosa entre duros vãos
de finos fios ferrosos, nome
nada
III
duas asas levemente pousadas na dureza da mão, pesado
impulso de voo preso
solo
IV
cerro os cílios sobre a superfície de ramos frágeis, cilício
sobre pele, calcário
careado
V
turbante em prata enrolado no topo da ideia, nebuloso
batismo de lágrimas
gelado
VI
fogueira plantada no alto queimando o vento, andarilho
perpétuo é o pé
exilado
VII
adornada de primaveras e abelhas lilases, uma semente
mantra imantado
no peito
VIII
explosão de fagulhas, lava escalando o túnel da garganta
cinzas de um deus
dormente
IX
curvo meu corpo alto de terra sobre tua terra derretida
lama, por que me fez
tão humana?
[in: Quintais, Patuá, 2016, prelo]
Uau! Poema-Gênesis, mito de origem. Quanta imensidão nesses versos…
Intenso como Universo e forte como a vida! Infinito! Maravilho cada linha, que envolve e entorpece a razão.