Logo nas primeiras páginas de “A morte de Deus na cultura”, o filósofo e crítico cultural Terry Eagleton afirma que o livro é menos sobre religião do que sobre a crise de seu aparente desaparecimento. Na obra, o autor parte do Iluminismo para mostrar como Deus sobreviveu ao racionalismo do século XVII e chega até a ascensão do islã radical, expondo a forma sombria como o divino ressurgiu nos últimos tempos.
Ao percorrer o Século das Luzes, o autor argumenta que a investida do Iluminismo contra a religião era antes de tudo uma questão política mais do que teológica. Em grande medida, o projeto não era substituir o sobrenatural pelo natural, mas descartar uma fé bárbara e ignorante em favor de outra, racional e civilizada. Eagleton destaca o papel dos idealistas alemães na tentativa de sair da dualidade entre uma religião excessivamente mundana, regida pela lógica terrena, e uma crença totalmente alheia a ela, demasiadamente transcendente.
O filósofo defende que se por um lado as sociedades racionalizadas tendem não só a empobrecer seus recursos simbólicos e patologizá-los, a ausência da racionalidade leva a uma religião tórrida. Neste contexto, Eagleton questiona se a cultura seria capaz de se tornar o discurso sagrado de uma era pós-religiosa.
O autor chama atenção ainda para o fato de o capitalismo ocidental ter contribuído não apenas para a secularização, como também para o fundamentalismo religioso:
“No exato momento em que o capitalismo contemporâneo parecia dirigir-se para uma era pós-teológica, pós-metafísica, pós-ideológica e até pós-histórica, um Deus irado mais uma vez ergueu a cabeça, ansiosa por protestar que seu obituário saíra prematuramente. Ao que parece, a tampa do caixão do Todo-poderoso não fora aparentemente bem pregada. Ela simplesmente mudara de endereço, migrando para a chamada região norte-americana do cinturão bíblico, as igrejas evangélicas da América Latina e as favelas do mundo árabe. E o seu fã-clube vem aumentando constantemente” , declara.
“A morte de Deus na cultura” analisa como é possível viver num mundo supostamente sem fé e que, por outro lado, está ameaçado pelo radicalismo religioso.
O livro chega às livrarias brasileiras em junho pela Editora Record.
Terry Eagleton é filósofo, professor e um dos maiores nomes da crítica literária no mundo. Leciona Literatura na Universidade de Lancaster, onde é professor emérito, e na Universidade de Notre Dame. É autor de mais de quarenta livros de teoria literária, pós-modernismo, política, ideologia e religião, entre eles o best-seller Teoria da literatura: uma introdução, O problema dos desconhecidos: um estudo da ética e Depois da teoria: um olhar sobre os estudos culturais e o pós-modernismo, os dois últimos publicados pela Civilização Brasileira.
A MORTE DE DEUS NA CULTURA
(Culture and the death of God)
Terry Eagleton
Tradução: Clóvis Marques
224 páginas
R$ 39,90
Editora Record
(Grupo Editorial Record)