Quatro poemas de Ana Cristina Cesar em seu aniversário

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Nesta quinta-feira (2), Ana Cristina Cesar completaria 64 anos. Ana C. – como era carinhosamente chamada – foi poeta, ensaísta, tradutora. expoente da Literatura Marginal dos anos de 1970, tem seus primeiros poemas publicados no jornal Tribuna da Imprensa.

Em 1979 lança, de forma independente, o primeiro livro de poesia,Cenas de Abril. Seguem-se Correspondência Completa, uma carta ficcional, e Luvas de Pelica, publicado em 1980.Lança, em 1982, A Teus Pés – reunião de títulos publicados até então e ainda o inédito que nomeia o volume.

Aos 31 anos, em 1983, comete suicídio. Após sua morte, o poeta e amigo Armando Freitas Filho organiza sua obra e promove o lançamento dos livros Inéditos e Dispersos, em 1985, Escritos da Inglaterra, 1988, e Escritos no Rio, 1993. Desde a criação do evento, apenas uma mulher foi homenageada: Clarice Lispector, em 2005.

Na Flip deste ano, Ana Cristina Cesar será a autora homenageada. A 14ª edição da Flip acontece entre os dias 29 de junho e 3 de julho. Confira a programação completa.

Leia quatro poemas de Ana C.

É muito claro

é muito claro
amor
bateu
para ficar
nesta varanda descoberta
a anoitecer sobre a cidade
em construção
sobre a pequena constrição
no teu peito
angústia de felicidade
luzes de automóveis
riscando o tempo
canteiros de obras
em repouso
recuo súbito da trama

Aventura na Casa Atarracada

Movido contraditoriamente
por desejo e ironia
não disse mas soltou,
numa noite fria,
aparentemente desalmado;
– Te pego lá na esquina,
na palpitação da jugular,
com soro de verdade e meia,
bem na veia, e cimento armado
para o primeiro a andar.
Ao que ela teria contestado, não,
desconversado, na beira do andaime
ainda a descoberto: – Eu também,
preciso de alguém que só me ame.
Pura preguiça, não se movia nem um passo.
Bem se sabe que ali ela não presta.
E ficaram assim, por mais de hora,
a tomar chá, quase na borda,
olhos nos olhos, e quase testa a testa.

 

O Homem Público N. 1 (Antologia)

Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.

Nada, Esta Espuma

Por afrontamento do desejo
insisto na maldade de escrever
mas não sei se a deusa sobe à superfície
ou apenas me castiga com seus uivos.
Da amurada deste barco
quero tanto os seios da sereia.No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda.
★★★
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