O telefone toca. Numero-oculto. Pqp. Não atendo nem por um decreto toque sem identificação. Não quero saber de gente anônima. Em nenhum sentido, se é que vocês me entendem. O telefone esperneia por alguns segundos, e morre. Esse tipo de toque é coisa-suspeita. Ainda mais quando coincide com datas-hipócritas inventadas por capitalistas porcos que só alimentam a merda do nosso insaciável mercado de consumo. Enfim, só uma observação-pontiaguda.
Essas datas que a expectativa cresce é coisa-do-mal.
O povo fica tendo revertério á toa. Cheios de efeito-colateral. O numero 12 afeta o cérebro-humano.
De verdade, não estou interessada em datas. Prefiro acreditar em atitudes á longo-prazo. Não nas que emergem apenas uma vez por ano.
Essas datas são uma puta de uma mentira.
O telefone brilha.
Não estou interessada.
Viro os olhos, mando à merda por telepatia e ponho no vibra-call sem dó.
De novo.
O telefone fibrila de forma histérica.
Tá em surto.
1 vez.
2 vezes.
3.
Inferno.
Algum filhodaputa está morrendo. Ainda quer morrer cheio de estilo. Pessoa-discreta são outros quinhentos né?
Mas morte não identificada não é comigo. Não hoje.
Sarna, certeza que é sarna.
De novo.
4.
5 vezes.
Mano, que agonia do cão!
Deu.
Vou atender, foda-se.
– Alô, quem incomoda?
– Sou eu.
– Fala ae, pensei que fosse alguma coisa.
– Você não tem saudades?
– Até tive. Nos outros onze meses que passaram.
– Porque não volta atrás?
– Porque a vida anda pra frente.
Desliguei.
Preferia que fosse alguém morrendo.