eu era apaixonada pelo Leandro
da dupla leandro e
leonardo,
rodava na sala imaginando que aquilo era o nosso beijo e que eu já tinha Peito, pelo, falava até
inglês i love you beijando o box do banheiro
de língua.
no verão
eu rodava com 1 balde de água no quintal, quando ficava muito tonta jogava a água em mim como um abraço que o leandro me daria,
soltava o pescoço pra trás, no rádio
o sucesso incansável beijo por beijo
sonho por sonho,
minha mãe achando
que eu gostava de sertanejo.
teve um sábado
que a maria ficou até Tarde lavando o quintal porque eu derrubei 2 vasos enquanto rodava de olho fechado fingindo beijar.
-essa hora meu ônibus não passa mais, ela disse
depois que terminou o serviço,
estava chovendo.
–eu te levo pra casa.
minha mãe pegou a chave
do carro
e pra eu não ficar sozinha que eu não tinha idade,
ela me colocou no carro junto, não reclamei.
a culpa do ônibus acabar
foi minha que matei o vaso,
fora que eu gostava de ver a chuva da janela do carro, aquelas gotas
comendo as de baixo, parecia
vídeo game,
chegamos.
até que não ficava longe
a casa dela, era pequenina
no fundo
de outra maior.
a maria
abriu a porta
e tinha um menino sentado na mesa brincando de caminhão.
-quem é? – eu disse.
-é meu filho.
a maria tinha um filho,
eu não sabia.
entramos na casa minha mãe e eu convidadas para um café,
meu olho
grudado
no menino, ele
era a cara do Leandro só que
menor.
minha mão suava,
eu secava na calça tentando disfarçar.
ajeitei meu cabelo curto,
odiava ser feia criança,
foi quando eu vi que a mão do menino
tinha 1 dedo a mais ao lado do mindinho, um pedaço de carne morena
sem unha
ou osso.
sentei na mesa da cozinha também
esperando o lanche que a maria e minha mãe
estavam fazendo.
disse:
– oi.
pro menino,
quase apaixonada se não fosse pelo dedo
morto,
era esquisito
e Legal ao mesmo tempo aquele dedo, acho que eu estava apaixonada sim,
pra caramba,
o menino tinha cheiro
de banho
com blusa de listra azul
e branca.
ele me respondeu:
-oi.
não sentindo nada além de sono e vontade de jogar futebol mas não dá com essa chuva.
ali na mesa
comendo bolo ao lado da versão criança do leandro que
nem me olhava,
foi quando eu tive uma prévia
do quanto o amor
pode ser
uma merda.