te ouvi chamando de mistério o que Não aconteceu entre nós,
eu chamo de medo
e tomando coca cola na fila do cinema chamo também de Indisposição amorosa, nada a ver com sexo,
sexo é uma conta de matemática que deu certo e logo depois
esquecemos dela, justamente por isso.
falo mesmo é da inércia do não estar apaixonado, pra mim é como boiar no mar e o ouvido oco,
finalmente um sossego morando na cabeça,
tão bom quanto morrer
em paz.
tem também a memória da dor de amar, depois de uma Queda
ninguém anda de bicicleta com o peito livre igual.
tem também que eu preciso de tempo
pra escrever,
tempo dentro de mim,
com você eu não teria. seria tudo sobre nós nas semanas que passássemos juntos
e que mesmo que fossem anos
começariam sendo semanas.
teria também os dias que não estaríamos juntos mas a saudade de você lá
me consumindo,
te procuraria desconcentrada
no fundo
de uma xícara, ficando velha te procurando em
objetos,
obsessiva e com sono mas sem conseguir dormir: porque é assim que o amor Faz. isso
os filmes não contam.
escreveria eu te amo (amando a ideia do amor e não exatamente você)
no nublado do box do banheiro e o banho quente querendo me matar.
te encontrei na padaria: você fingiu não me ver.
passei pelas suas costas e fiz nascer um vento na sua nuca que você sentiu, eu sei que sim, as pessoas ao lado achando que somos desconhecidos.
é horrível morarmos no mesmo bairro, antes a grande vantagem de ficarmos juntos,
fazíamos tudo a pé.
você já deve ter encontrando um colo enquanto pensa de vez em quando que talvez teria sido bom entre nós. bom é pouco. bom faz esquecer os problemas por um tempo curto demais.
me arrependo toda vez que começo a querer me apaixonar, devia ter te avisado, que me fiz fria por
proteção,
meu avó foi o primeiro que me amou e meteu
a mão
em mim.
é lento
meu processo de começo de amor
então dá pra dizer:
-Pare.
pra mim mesma e me escutar com atenção.
já foi rápido me apaixonar, agora
prevejo os sinais e
paraliso as coisas em mim sem sofrer. estou ficando velha e a gente aprende isso ficando velho.
até por uma cidade quando estou viajando e começo a me apegar demais à ruas, sentindo frisos na pele parecidos com rugas mesmo antes de partir,
ou até em livros, durante a leitura,
pensando já no próximo capitulo,
o que acontecerá com marta? essa personagem maravilhosa
que lembra tanto minha mãe.
não deixo mais o amor entrar escancarado assim, livremente pousado nos meus órgãos, Chega.
tive amigas dilaceradas depois do fim de um amor, sentaram até em bancos de igreja
procurando uma reposta e o silêncio na gruta
com cheiro de incenso,
e jesus com prego
no pé e nas mãos, o sangue no meio das pernas porque o amor
Acaba,
ainda que ele se transforme em algo bonito também feito amizade.
ou um poema.
ou 2 estranhos como eu e você na padaria.
o amor acaba e eu não queria passar por isso de sentir o amor acabado, gastando dinheiro com
poetas que leem
seus cordéis pelas ruas, tentando me apaixonar por aquele argentino que vende brincos
só porque ele parece um pouco você e sempre me diz
que eu poderia ter a prata que eu quisesse da barraca dele.
pra quê passar por isso e morrer um tanto sendo que já morrerei de qualquer maneira num belo dia e finalmente?
não, menino,
chega. as músicas sobre a terra são tão mais bonitas que as músicas sobre seus olhos. prefiro guardar de você o seu antes,
sua expectativa de encontrar companhia em mim já que seu rosto é todo solidão de alguém que mudou de cidade recentemente
e da janela do seu flat a vista ainda é nova de alguns ângulos, você ainda
se surpreende.