Esgarçar do Tempo
Nada mais importa:
Há um vazio no meio
Da rotina bruta e morta.
O tempo insiste em roubar
As distrações do frágil dia.
Esse lampejo vago e morno
De uma arritmia quase doentia,
A lenta e estonteante paralisia
Do corpo frente ao medo da vida.
Curvo-me aos sonhos de ser quem
Eu realmente queria, morrer de tédio
Já não cabia nas sanhas da forte ventania.
Entretanto, não sucumbi ao tédio
Porque fui morar na loucura de minha
Alma, rebelei-me, como sempre,
Ao sabor das mudanças da alma .
A alma altera conforme o fluxo
Do declínio, o declive do ser em
Estado de reclusão e pavor da repetição.
Mudo como quem morre todos os dias;
Renasço pela manhã e deito-me no esgarçar
Da literatura do movimento: a vida e o viver.