Minha querida irmã – nosso arpão, teu sabre – abre os olhos para o que há de vir
Baixamos a guarda certa vez – e o que fez surgir nosso descuido senão mais um soco em nossa cara– que o nosso queixo será sempre a rota preferida dos punhos fechados em busca de nossos vacilos para novos nocautes
– punho arqueado, então –
pés no chão – olho em tudo – costas nas costas de um irmão – sem retrovisores – deixa que alguém cuide as tuas costas – e cuida tu, as costas de alguém – e avança à guerra – e não esquiva agora – não te demores à luta – que a farra dos covardes não custa começar – que eles já cagaram em nossa história – e logo terão mijado em nossa comida –e terão tomado nossos lares– e nos farão acreditar que o esgoto é nossa casa – pois que terão invadido nossas ruas – empesteado nossos bairros – e seu discurso será dono de nossas cidades inteiras – e terão azulado as bandeiras de nossos estados – e saquearão sessenta e quatro vezes o nosso país – carcomido sessenta e quatro vezes nossa autoestima antes de cravar os dentes brancos da moralidade em nossa clavícula – nos abandonarão para assistir de longe o cumprimento desse presságio – nossa dor – nosso naufrágio –
e não pouparão punhaladas a nenhum compatriota
que ante a derrota não é dado aos ratos ter pátria.
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Gleison Luiz Nascimento
Pernambucano da capital, escritor e ator, ainda não tem livro publicado. Performer, desenvolve hoje um trabalho de performances/recitais que trabalham como linguagens convergentes – literatura e teatro. É integrante do grupo #4urubueacarniça e ex-integrante do grupo São Saruê. No cinema, como roteirista, teve seu primeiro filme rodado em 2014 (Sobre o peito, a lâmina: Crua), que circulará a América do Sul em competições de língua latina. Letrista, traz parcerias que têm dado frutos, como a parceria com a banda Marsa, que venceu o festival de música PRE-AMP 2015 e está gravando um disco com músicas inéditas assinadas também por Gleison.