Um dos mais importantes dramaturgos do século XX, o britânico Harold Pinter é dono de um Prêmio Nobel de Literatura, vencido em 2005, e criou obras que, de tão características, deram origem a um novo adjetivo amplamente usado no universo do teatro: “pinteresco”. Em setembro, chega às livrarias pela José Olympio uma nova edição caprichada que reúne duas das principais obras de Pinter: “A festa de aniversário” e “O monta-cargas”, ambas escritas em 1957.

“A festa de aniversário” é a primeira grande obra do autor, e foi adaptada para o cinema em 1968 pelo diretor William Friedkin. A ação se desenrola numa espécie de pensão localizada numa cidade inglesa à beira-mar. É o dia do aniversário de Stanley, único hóspede do local, e dois homens misteriosos chegam para ameaçar a comemoração. Já em “O monta-cargas”, dois assassinos de aluguel aguardam, juntos, as instruções para os próximos trabalhos num quarto de hotel.

Frequentemente associado ao Teatro do Absurdo – ao lado de Samuel Beckett, Eugène Ionesco e Tom Stoppard, por exemplo –, Pinter constrói, nestas duas obras, uma tensão crescente utilizando-se de situações e diálogos aparentemente triviais e até sem sentido. “Percorrendo a tênue fronteira que separa a realidade e a irrealidade, a verdade e a falsidade, Pinter coloca em cena situações e personagens ambíguas pela própria natureza, extraindo poesia do cotidiano”, escreve Flavio Marinho no prefácio que acompanha esta nova edição.

Harold Pinter foi um dramaturgo, roteirista, poeta, ator, diretor e ativista político britânico. Escreveu para teatro, televisão, rádio e cinema. Entre suas peças mais famosas estão “Betrayal” [Traição], de 1978, e “The homecoming” [Volta ao lar], de 1964, ambas adaptadas para o cinema. Em 2002 recebeu o Prêmio Companion of Honour da rainha da Inglaterra pelos serviços prestados à literatura e, em 2005, venceu o Prêmio Nobel de Literatura. Morreu aos 78 anos, em 2008.

ORELHA

As peças A festa de aniversário e O monta-cargas, escritas em 1957, hoje consideradas exemplos reluzentes da “comédia de ameaça”, foram muito além de rótulos e classificações para tornarem-se clássicos da dramaturgia do século XX, universalmente apreciadas e constantemente investigadas, cujo conteúdo político e social parece tão contundente hoje quanto na época em que foram escritas. Concebida nas coxias pelo jovem ator David Baron (pseudônimo usado por Pinter no início da carreira), A festa de aniversário tem sua estrutura calcada nas comédias ligeiras e de suspense, típicas do repertório de companhias itinerantes nas quais Pinter atuava. Através de sua genial imaginação e ousadia, este estilo é retrabalhado e reconstruído numa obra de visceral teatralidade, com personagens envolvidos num emaranhado de poder social e psicológico que desafiam com extremo vigor o peso insuportável de ideias ultrapassadas, de valores decadentes e reacionários. Em O monta-cargas, essas relações de poder são ainda mais intimamente examinadas por meio do encontro de dois assassinos profissionais que esperam suas instruções num quarto de hotel decadente. A inspiração aqui vem dos filmes de gângsteres de Hollywood do pós-guerra, dos números cômicos do music-hall britânico (teatro popular de variedades) e do niilismo de Kafka e Beckett. Nestes dois textos estão presentes as marcas do estilo inconfundível e dos temas centrais que viriam a ser desenvolvidos no decorrer da carreira de uma das vozes mais comprometidas com a garantia da liberdade de expressão humana. De um autor que viveu segundo a fala de Petey em A festa de aniversário: “Stan, não deixa eles te darem ordens!”.(Alexandre Tenório)

★★★

A FESTA DE ANIVERSÁRIO E O MONTA-CARGAS

(The birthday party / The dumb waiter)

HAROLD PINTER

Páginas: 176

Preço: R$ 39,90

Tradução: Alexandre Tenório

Editora: José Olympio | Grupo Editorial Record