Hoje era Charles Mingus
Abri a janela, só metade
No horizonte água,
faltou sabão pra tirar a gordura
impregnada
Na vitrola som,
hoje Charles Mingus
minguava alto, girava
ressonante e singular,
parecia até canção de ninar
(só que de improvisar, uma carta na manga, um talvez)
Coloquei uma bota de plástico,
fazia tempo que não tinha brejo.
Peguei o guarda-chuva preto, cabelo bagunçado
e desci apressada, apressada tentando entender
as mazelas,
tranquei o portão,
ato tão corriqueiro que pensei:
– Puta merda, será que tranquei o portão?
Já tinha virado a esquina
Minhas redundâncias silenciadas
E a música continuava
Nas ruas turvas
da cidade
pós-eleição.
★★★