menino hamster
larga o teu cárcere, menino Hamster
deixa o teu calabouço – esse silêncio vampiresco –
& te entrega por inteiro aquela rota anti-sísifica
larga aquelas fábulas que tua infância já devorou & regurgitou
deixa teus mantras soarem sozinhos nessa floresta cinza-concreto
larga essa tua antropofagia vegetariana
ainda aguardando a pílula do século seguinte?
ainda buscando a estaca zero?
o maná apodreceu
o vinho evaporou
o diazepam acabou
& tua bússola sumiu
& agora as promessas de felicidade caíram por terra de vez
veio o pranto
veio o ranger de dentes
veio isso tudo & ainda suplicas por caridade
enquanto tua jugular é deflorada por uma vida insossa?
★
toada
agradeço ao vento
pelo afago
essa brasa no centro da cidade
cobra nossos pecados
perdi o ônibus
agora espero a próxima toada
aqueles homens discutem o sexo dos anjos
enquanto os sinos anunciam a hora de pico
agradeço ao vento
pelos cabelos bagunçados
pela fagulha que seguiu seu rumo
pelo cisco no olho
pelo olho no olho
essa brasa ainda acesa
se expande pela avenida
até a outra & outra avenida
cobrindo os panfletos jogados no meio fio
& tingindo o asfalto de dourado
a toada se anuncia
como em estado de calendário
aqueles meninos moram na praça
coração de jesus
ao lado da praça das crianças
perto da catedral
ao largo de meu olho onde o cisco tomou posse
a toada se anuncia
como se o eco dos passos
fosse eterno
& as buzinas soassem em uníssono
a toada se anuncia
como se a tartaruga tivesse queimado
a largada & aquiles estivesse
catando os infinitos
como se fossem feijões
em cima da mesa
★★★