LANÇAS
aconteceu de chover tanto
que cogumelos imensos
nasceram no concreto
justo hoje que não diria
dos punhais sobre o sonho
vesti minhas luvas
cerquei-me de lanças
vi meu coração partido
há coisas
que simplesmente nascem:
não se pode dissuadir a vida
de sua natureza terrível
★★★
ROTEIRO
armar as palavras não ditas
com o metal de nossos sonhos
beijá-las vertiginosamente
antes que nasçam
antes que quebrem
antes que partam
não dizer que uma língua que cala
é uma língua que sangra
escrever um poema de amor
que por não saber
o diga
★★★
ENTRE
a fera repousa agora
no imenso deserto que invento
entre a boca e o colo
mas quando suas garras
cruzarem o escuro
abrirei a porta
e beijarei seus olhos
até que me queira
até que me cale
até que me diga
tenho, tenho que acordar
★★★
BRIO
é verdade que ainda sangro
e que às mulheres
por brio ou obscuridade
é dado sangrar em silêncio
mas veja minha irmã e eu:
a carne exaurindo a noite
as luzes todas acesas
o coração ruidoso
se agora canto
é porque desaprendi
a morrer primeiro
★★★
CURVA
e se em vez de arranhar o espelho
eu pusesse a mão sobre a nuca
e ante a curva do meu ombro esquerdo
o amor escorresse lentamente?
e se em vez de partir
mil flores de nada
mil versos de quando
mil cacos em tudo
teus dedos pudessem
toda sombra todo muro
toda estrada todo monte
empurraríamos a pedra?
★★★★★★
Livre Opinião – Ideias em Debate
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Obrigada, Anisio! Grande abraço!
Que honra estar aqui! A edição ficou linda, ainda mais com essa imagem! Um grande abraço a todos e minha imensa gratidão pela oportunidade!
Daniela são partículas pesadas no vento.
Que jeito bonito de dizer. Um beijão, Luciano!