Primeiro trago
Trago em mim o hábito de cultivar flores mortas
como quem zela borboletas que não aprenderam voar
– e por isso só não sou só.
Um poema
Você já viu os meus sonhos, viu? Você não viu
o tamanho dos meus sonhos e não viu como eles murcham
quando eu os guarda-roupo e digo que fiquem quietos – que volto já
Eles sabem que eu não volto, sabe?
você não sabe o que é viver cercado por essa pele toda
e não sabe o que é trazer no peito essa bomba
que pra não foder com o mundo, dilacera o próprio núcleo
Colidindo átomos – implodindo cidades inteiras dentro de mim
Você já foi Hiroshima, foi? Você não foi
você não sabe o que é morrer Nagasaki pra renascer poema –
deglutir a própria radiação e ver brotar na ponta da língua
as flores mais bonitas e mais pesadas que poderiam nascer
das camadas tesas de areia preta
que cultivam em minha boca um jardim de titânio –
Vivo poeta,
morro gerânio e pus.
Trago segundo
Trago pra você não as flores do campo,
mas as pedras das ruas onde habitam as promessas mais loucas
mais bonitas,
que poli na intenção de te entregar –
e cascalhos não murcham
pode usar
de amuleto e de guia que eu te sigo
se cansar, para um pouco, pede abrigo,
e olha um pouco de lado
eu vou estar.
Trago pra você não as flores do campo,
mas as minhas chatices mais sinceras e a maneira mais doce
mais singela
de dizer pra você que pode entrar-
e essa porta não fecha
é pra usar
pode entrar e sair só não esquece
se houver frio no mundo, amor aquece
deixa espaço na cama
eu vou deitar.
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