
“Antígona’ (Foto: Guga Melgar)
Considerada pelo filósofo alemão G.W.F Hegel uma tragédia ao mesmo tempo antiga e moderna, por discutir direito natural e o conceito ocidental de justiça, “Antígona”, de Sófocles, pertence à última parte da trilogia tebana, iniciada pela saga de Édipo Rei. A versão do diretor Amir Haddad para o clássico, com interpretação de Andrea Beltrão, tem uma curtíssima temporada no Sesc Santo André, entre os dias 21 e 23 de julho, com sessões na sexta-feira, às 21h; no sábado, às 20h; e no domingo, às 18h. Os ingressos custam até R$40.
Após 2.400 anos de sua primeira montagem na Grécia Antiga, a peça apresenta um eterno retorno às raízes do mito, da obra, do autor e dos pilares da cultura e da civilização ocidentais. No plano simbólico e filosófico, a narrativa de Antígona remete às tensões entre o divino e o humano, à temporalidade dos deuses, à angústia humana diante da imortalidade, à justiça como uma benevolência dos deuses e às dimensões ética e humana. Sófocles abre, também, uma dimensão política e existencial, a partir do tema da morte.
A montagem ainda aborda o derradeiro instante da vida como ponto de cisão, de crise, necessária a qualquer reflexão sobre a nossa condição. Evocando uma retrospectiva entre o ato do nascer e do momento final, a morte não abriria apenas uma causalidade física, mas mostraria a demarcação em indivíduos do simbólico numa determinada cultura: a necessidade presente – enterrar o irmão morto – pelo respeito às leis da ancestralidade, e as condições políticas num determinado período histórico.
Escrita por volta de 442 a.C, a obra de Sófocles narra a tragédia de Antígona, filha de Édipo e irmã de Etéocles e Polinice. Depois que Édipo comete o parricídio e incesto, admite a culpa trágica e cega os próprios olhos, seus descendentes iniciam uma disputa pelo poder. Os irmãos homens acabam se matando em uma briga pelo trono.
Sem nenhuma descendência masculina, Creonte, o mais próximo da linhagem de Jocasta (mãe-esposa de Édipo), ganha o título para governar Tebas. Em seu primeiro edito, o tirano decreta como deverá ocorrer o cerimonial fúnebre de Etéocles e Polinice. O primeiro ganha a honra de ser sepultado de acordo com as leis divinas; o segundo, para servir de exemplo aos demais cidadãos de Tebas, tem seu corpo abandonado aos cães e aves de rapinas
Ao saber do decreto do monarca, Antígona se revolta com o fato de Polinice ser enterrado sem os devidos ritos sagrados. Ela se mostra insubmissa às leis humanas e batalha para que o corpo do irmão possa ser apropriadamente velado.
Com tradução de Millôr Fernandes e dramaturgia de Amir Haddad e de Beltrão, o espetáculo atesta a vertiginosa capacidade das tragédias gregas de mostrar o dilaceramento da razão frente às paixões da alma; a condição humana sempre levada pela incerteza das contingências e pela tardia chegada da consciência diante dos acontecimentos.
Como destaca Millôr na primeira encenação para a sua tradução: “Se o céu fosse azul, o pão bem distribuído, a escola aberta, o amor proclamado, o riso permitido, a fé diversificada, o mérito reconhecido, Antígona estaria morta e enterrada entre milhões de alfarrábios que perderam força na literatura dramática de todos os tempos”.
Andrea Beltrão acaba de ser indicada ao Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) 2017, na categoria de “Melhor Atriz”.
FICHA TÉCNICA
“Antígona”, de Sófocles
Tradução: Millôr Fernandes
Dramaturgia: Amir Haddad e Andrea Beltrão
Direção: Amir Haddad
Com: Andrea Beltrão
Iluminação: Aurélio de Simoni
Figurino: Antônio Medeiros
Direção de Movimento: Marina Salomon
Cenário e Projeto Gráfico: Fabio Arruda e Rodrigo Bleque (Cubículo)
Mídias Sociais: Rosa Beltrão de Farias
Operação de Luz: Vilmar Olos
Desenho de Som: Andrea Zeni
Trilha Sonora: Alessandro Persan
Apoio Sonorização: Áudio Cênico
Montagem Cênica: Ricardo Rodrigues
Camareira: Conceição Telles
Administração: Sérgio Canizio
Desenvolvimento Turnê Nacional:Trigonos Produções Culturais
Produção: Boa Vida Produções
SERVIÇO
“ANTÍGONA”
Quando: 21/07, sexta-feira, às 21h; 22/07, sábado, às 20h; e 23/07, domingo, às 18h.
Onde: Teatro
Ingresso:R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (aposentado, pessoa com 60 anos ou mais, pessoa com deficiência, estudante e servidor de escola pública com comprovante), R$ 10,00 (trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes). Venda limitada a 6 ingressos por pessoa ou CPF.
Não recomendado para menores de 18 anos.
Sesc Santo André– Rua Tamarutaca, 302 – Vila Guiomar – Santo André
Telefone: (11) 4469-1200
Estacionamento (vagas limitadas): Credencial Plena – R$ 6 | Outros – R$ 11
Informações sobre outras programações: http://www.sescsp.org.br/santoandre