
(Crédito: Edson Kumasaka)
Em 1917, o partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lenin (1870-1924), libertava o então Império Russo de um duradouro regime absolutista, representado pela figura do czar Nicolau II. O espetáculo “Kiev”, com texto do uruguaio Sergio Blanco e direção de Roberto Alvim, marca o centenário desse episódio histórico conhecido como Revolução Russa. A peça estreia no dia 4 de agosto, no Sesc Ipiranga, onde cumpre temporada até 10 de setembro (exceto no dia 1/9), com sessões às sextas e aos sábados, às 21h, e aos domingos e feriado, às 18h. Os ingressos custam até R$30.
A revolução que originou a União Soviética (URSS) em 1921 foi uma tentativa de concretizar o comunismo, tal como proposto por Karl Marx (1818-1883) e outros filósofos socialistas no século 19. No entanto, a ascensão política de Josef Stalin (1878-1953) em 1927, três anos depois da morte de Lenin, representou não apenas o fim do sonho de uma sociedade igualitária como também o início do totalitarismo, uma das formas mais opressivas de poder.
Em plena discussão sobre o rumo das democracias e do próprio capitalismo nos dias de hoje, a montagem narra a história de uma família que retorna à Rússia depois do regime de Stalin, e encontra sua antiga casa prestes a ser demolida para se transformar no estacionamento de um shopping center, um dos maiores símbolos da sociedade de consumo. A piscina apodrecida, cheia de cadáveres de presos políticos, evoca os fantasmas do totalitarismo.
Inédita no Brasil, a obra de Blanco, publicada em 2004, é uma releitura contemporânea da peça “O Jardim das Cerejeiras”, do escritor e dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860-1904). Na trama, a substituição da piscina de corpos por um centro do consumo simboliza uma espécie de amnésia coletiva, que faz com que os cidadãos apaguem a tortura, o assassinato e toda forma de atrocidade de seu passado, a ponto de negá-lo por completo.
A justiça social não tem espaço em sociedades como essa. A ideia da peça é criar uma espécie de síntese dramática da forma como as pessoas comuns lidam com os regimes totalitários do século XX, como a Ditadura Militar Brasileira.
“O objetivo de Kiev será o de revelar aquilo que permanece oculto: tornar visíveis aquelas imagens relegadas à obscuridade. Esse é também o objetivo de minha obra como um todo. Minha arte poética consiste na necessidade de reivindicar a revelação do oculto, do inominável, do proibido, por meio do teatro”, define Blanco.
O drama histórico alcança dimensões trágicas, tornando-se fonte inesgotável para a reflexão. O elenco conta com a participação de Juliana Galdino, Marat Descartes, Otávio Martins, Filipe Ribeiro, Taynã Marquezone e Caio Daguilar, que, ao lado de Alvim, integram a companhia Club Noir.
“Kiev” é o primeiro trabalho dirigido por Alvim depois de “Leite Derramado”, que estreou no final de 2016, no Sesc Consolação, e passou pelo Rio de Janeiro, Santos, Curitiba, Recife, entre outras cidades do país. Inspirada na obra homônima de Chico Buarque, a peça recebeu indicações aos prêmios Shell e APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e foi eleita pelos jornais Folha de S.Paulo e O Globo como o Melhor Espetáculo de 2016.
Oficina com Sergio Blanco
Além de assinar o texto da peça, o uruguaio Sergio Blanco ministra a oficina gratuita de dramaturgia “Considerações Sobre o Olhar” no Sesc Ipiranga, nos dias 9 e 10 de setembro, das 14h às 19h. Os interessados em participar da atividade devem se inscrever até o dia 2/9 pelo e-mail oficinas@ipiranga.sescsp.org.br. É preciso enviar nessa mensagem uma carta de intenção e currículo. Embora a atividade seja direcionada a dramaturgos, todas as pessoas interessadas pela escrita teatral podem participar (basta que tenham mais de 16 anos).
A partir da relação entre pintura, fotografia e arte teatral, a atividade discute os mecanismos iconográficos e verbais da representação. Será apresentado um conjunto de técnicas úteis para produzir imagens ou textos que permitam ao dramaturgo “mostrar” o mundo.
Roberto Alvim
Considerado um dos principais encenadores na cena teatral paulista contemporânea, o carioca Roberto Alvim comanda o Club Noir desde 2006, ao lado da atriz Juliana Galdino. Recentemente, dirigiu e adaptou as peças “Leite Derramado” (2016), a partir da obra de Chico Buarque; “O Balcão” (2015), a partir de Jean Genet; “Caesar” (2015), a partir de William Shakespeare, entre outras. Alvim já lecionou dramaturgia em várias instituições, como a Universidade de Córdoba, SP Escola de Teatro, ELT – Escola Livre de Teatro de Santo André e o Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council.
Sérgio Blanco
Um dos representantes do teatro uruguaio contemporâneo, Sergio Blanco é dramaturgo, ator, diretor e professor de dramaturgia. Ele é autor das peças “Kassandra”, “Opus Sextum”, “Diptico I e II”, “Slaughter” e “.45”, vencedoras prêmios no Uruguai e na Europa. Em 1993, recebeu o Prêmio Florêncio, que lhe garantiu uma bolsa para estudar dramaturgia e direção teatral na Comedie Française, em Paris. Desde 1998, mora definitivamente na capital francesa.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Sergio Blanco
Tradução, Adaptação e Direção: Roberto Alvim
Elenco: Juliana Galdino, Marat Descartes, Otávio Martins, Filipe Ribeiro, TaynãMarquezone e Caio Daguilar
Cenário e Iluminação: Roberto Alvim
Trilha Sonora Original: LP Daniel
Figurinos: Cássio Brasil
Cenotécnico: Fernando Brettas
Fotos e Vídeos: Edson Kumasaka
Assistentes de Direção: Dug Monteiro e Bárbara Toledo
Produção: Dani Angelotti
Assistente de Produção: Cida Serafim
Realização: Club Noir e Cubo Produções
Duração: 1 hora
Recomendação Etária: 14 anos
SERVIÇO:
“KIEV”
Sesc Ipiranga – Rua Bom Pastor, 822. Teatro (200 lugares)
Estreia: 04/08, 21h.
Temporada: 05/08 a 10/09, exceto dia 01/09. Sextas e sábados, 21h. Domingos e feriado, 18h.
Preços: R$ 30,00. R$ 15,00 (meia). R$ 9,00 (credencial plena).
Vendas: online a partir de 25/07, 18h. Nas bilheterias do Sesc em São Paulo a partir de 26/07, 17h30.
Oficina
“Considerações sobre o olhar”, com Sergio Blanco
Apoiada em sólido suporte teórico, a atividade aborda as relações entre fotografia, pintura e arte teatral para criar uma reflexão sobre os mecanismos iconográficos e verbais da representação. Esses são um conjunto de técnicas que permitem “mostrar”, descrever e escrever o mundo.
Inscrições: é preciso enviar carta de intenção e currículo até 2/9 para o e-mailoficinas@ipiranga.sescsp.org.br. Grátis.
Classificação: 16 anos