o Marcelo ainda queria leite
mas ficou com medo
da mãe, você não tem mais idade pra peito, ela disse furiosa e então ele
se afastou,
foi brincar no quarto.
ele fica vendo o irmão e quer fazer igual, a mãe contou pro pai
de porta fechada, mas o Marcelo escutou, as crianças
sempre escutam. largou o barquinho. deitou na cama se sentindo injustiçado.
o jonas
podia fazer um monte de coisa legal inclusive bagunça, inclusive gritar
pra logo depois ganhar o peito
da mãe sempre carinhosa, pra ele ela até cantava.
já com o Marcelo
era só bronca, saí daí menino, quer
apanhar?
eu faço tudo errado, ele pensou com sono
dormiu sonhando que morava em marte.
no dia seguinte, era sábado, o telefone tocou.
-posso buscar o Marcelo? pra gente passar a tarde juntos?
-claro. – a mãe disse por telefone. – quer ir na vó, filho?
-quero! -ele disse pulando do sofá.
e depois de algumas horas ela veio buscar o neto, eles se abraçaram.
ficaram ouvindo música clássica no carro, as músicas que tocavam no desenho.
quando chegaram na casa dela a vó
tinha um presente, uma pedra da sorte
cor de
alumínio, guarde
pros dias ruins.
depois
eles ficaram jogando conversa fora.
-a minha professora de classe até que é legal, mas ela passa muita tarefa, eu fico cansado.
a vó disse que ele não precisava levar a escola tão a sério, que as crianças aprendiam muito mais convivendo com os amigos, brincando no pátio. ela contou sobre Artistas que largaram tudo, casa, família,
pra viver na estrada e isso foi mais importante do que qualquer escola.
-tá na hora do Pernalonga. – o Marcelo disse, olhando no relógio.
-pode ligar.
-faz bem assistir desenho?
–tudo o que você gosta te faz bem. não escute as pessoas, geralmente elas querem nos afastar das coisas que amamos.
(uma pausa)
-tô te achando tão tristinho.
-não tô, vó.
-vem cá – ela disse o abraçando. – tá acontecendo alguma coisa?
-não.
-quer dormir aqui hoje?
-uhum.
e eles ficaram assim por um tempo
no colo um do outro
foi quando o Marcelo percebeu o relevo
então ela tem também?, ele pensou. começou a procurar com a boca
igual ele tinha feito
com a mãe.
por um segundo
a vó pensou em
afastar o neto
mas
ficou com pena, viu os olhinhos virando,
tá com fome? ele balançou que sim.
então ela levantou
a blusa
abriu o sutiã
sem susto o Marcelo alcançou
um bico
apoiou a mão no outro
e ficou buscando um leite que
faz tempo não estava mais ali.
-mama meu amor, finge que eu sou a sua mamãe
enquanto o Patolino tentava
enganar o Pernalonga pela milésima vez.
★★★★★★
Leia os textos anteriores da escritora Aline Bei
★★★
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