Como as religiões afetam a sociedade, a política e até mesmo a economia de um país? Investigar isso e outros aspectos da obstinação religiosa é um dos objetivos de ANTIdeus, último espetáculo da mostra TEATRO DE CONTÊINER CONVIDA CARLOS CANHAMEIRO. Texto premiado na Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do Centro Cultural São Paulo, a montagem faz apresentações de sábado a segunda-feira, às 20 horas, nos dias 7, 8 e 9 de outubro, no Teatro de Contêiner Mungunzá.
Em um país indeterminado seu presidente sanciona lei revogando os feriados religiosos como feriados nacionais, em respeito à laicidade do governo. Com essa premissa ANTIdeus tem início e seus desdobramentos entre as mais diversas camadas sociais sobre deus e a política ou a política de deus.
Para o autor e diretor Carlos Canhameiro, o espetáculo busca dar vozes às diferentes figuras que são afetadas diretamente por uma política excessivamente religiosa: mulheres, crianças e toda a comunidade lgbtrans. “Porém, longe de ser um manifesto contra os religiosos ou em favor da laicidade política, ANTIdeus urge em discutir e mesmo poetizar os espaços de ação do homem e da mulher fora dos contextos religiosos e seus desdobramentos práticos: a política, o direito e a liberdade sexual”, explica ele.
Nietzsche
Idealizada durante um workshop com integrantes do Royal Shakespeare Company, a dramaturgia do espetáculo também tem inspiração no livro O Anticristo, de Friedrich Nietzsche, mas de acordo com Canhameiro, ANTIdeus não é uma peça ateia. “A ideia é mostrar que é possível discutir religião, além de questionar se vale a pena tanto ódio para quem não compactua de suas crenças. Afinal não são só os extremistas religiosos que cometem atrocidades em nome de tantos deuses”, provoca o autor.
Com uma narrativa não linear, ANTIdeus apresenta uma série de quadros mesclando dramaturgia e música. A montagem traz seis atores no elenco, sendo que quatro são músicos e marca a estreia do cantor e bailarino Lineker como ator no teatro.
O enredo gira em um jantar entre amigos, que discutem como a revogação dos feriados religiosos afetariam as principais religiões presentes na bíblia cristã – islamismo, judaísmo e cristianismo (católico e protestante) – e também a sociedade. A reunião dos amigos é entrecortada por solilóquios que contam diferentes histórias, como um homossexual que quer engravidar de um anjo ou uma criança assassinada por guerras religiosas e também a própria visão do presidente sobre o decretro eliminando os feriados religiosos.
Encenação
Não é a primeira vez que Carlos Canhameiro dirige seu próprio texto, mas o autor e diretor conta que já fazia um tempo que isso não acontecia. Sua última peça foi dirigida por Georgette Fadel, O Canto das Mulheres do Asfalto. “Optei por uma direção que privilegiasse as atrizes e atores em cena, com autonomia para pontuar e falar o texto como quisessem já que toda a peça é escrita sem pontuação e com isso encontrar novas camadas no meu próprio texto”, completa ele.
A cenografia e figurinos, assinados por Renan Marcondes, também tiveram um diálogo com toda a equipe da peça. Os atores aparecem em cena vestidos como jogadores de futebol, mas com alguns elementos que remetem a determinadas religiões.

ANTIdeus (Foto de Carlos Canhameiro)
TEATRO DE CONTÊINER CONVIDA CARLOS CANHAMEIRO apresenta ANTIDEUS – Dias 7, 8 e 9 de outubro, de sábado a segunda-feira, às 20 horas. Dramaturgia e Direção – Carlos Canhameiro. Elenco – Paula Mirhan, Marilene Grama, Ernani Sanchez, Daniel Gonzalez, Lineker e Rui Barossi. Cenografia, Figurinos e Pensamento Visual – Renan Marcondes. Recomendação etária – 16 anos. Duração – 100 minutos. Ingressos – R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada). A venda pelo site www.ciamungunza.com.br.
TEATRO DE CONTÊINER MUNGUNZÁ – Rua dos Gusmões, 43 – Luz (próximo à estação Luz do metrô). Acesso para deficientes físicos. Capacidade do Teatro – 99 lugares. Bilheteria – Abre uma hora antes do início das apresentações (aceita dinheiro e cartões débito/ crédito Visa e MasterCard).