Felipe Ribeiro: Quando o outono fez Sol nos seus olhos

 

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(Quando o outono fez Sol nos seus olhos)
Me partiu em dois, e cuspiu a casca
Me incinerou e recriou-me novamente
Molhou meus pés e secou minhas mãos
Arrastou as cadeiras e me deu espaço
Mostrou a infinitude e pediu para recomeçar
Tocou com as pontas dos dedos meu coração
Lambeu meu rosto, secou minhas lágrimas
Segurou-me pela blusa, tirou toda minha vergonha
Me mordeu no final do sorriso e eu vi as maçãs em seu rosto
Mostrou seus braços como se envolvesse todo o meu corpo
Acordou dentro do meu peito como se eu fosse domingo
Lembou da sua voz curiosa e eternizada no meu silêncio
Me segurou com medo do céu ser muito mais alto
Sentiu as costas arrepiar comigo sussurrando que eu te amo
Aranhou minha cintura em tons rosa e apertou com os dedos
Principia quando você chega tirando as folhas do quintal
Finaliza quando dezembro colhe nossas frutas no pé
Derreteu em minha boca como seu beijo de algodão-doce
Mentiu sobre o mundo dizendo que eu era a única verdade
Me beijou no rosto quando meus olhos fecharam e choveram
Construiu portos no seus ombros com rosto cheio de veleiros
Me mostrou a costura da sua calça que ficou na minha pele
Me cortou as unhas, depois roeu as suas cheias de esmalte
Me entregou as borboletas da sua barriga e as luzes de natal
Trocou as meias e costurou os buracos negros no meu peito
Pendurou minhas asas, lavou meu corpo sujo dos dias
Rasgou calendários e jogou minhas roupas no chão do quarto
Me costurou as jaquetas rasgadas, rasgou os poemas azuis
Costurou meus joelhos, molhou as cicatrizes com um beijo
Te acordar por culpa dos cachorros latindo que eu estava ali
Me esfarelou no seu peito como bolacha de água e sal
Mordeu um limão pela casca, bebeu Campari na terça
Ligou na rodoviária e veio me buscar no fim do mundo cego
Soube que não tem luz no fim do mundo, vagalumes mortos
Me entregou fotos queimadas, depois rasgou as cartas e só
Me escreveu com caneta estourada, palavras de amor em francês
Borrou o lado esquerdo do peito, lavou com sabão em pó
Me invadiu a casa, depois destrancou as portas
Me abriu janelas nos olhos, depois teu incêndio queimou tudo
Me fez relâmpagos vindo de nuvem nenhuma, nem do céu
Abriu os botões azulados do meu peito, depois tirou flores
Me revelou segredos do vento, após, assoprou meus cabelos
Me beijou amargamente como se eu tivesse açúcar na língua
Me escreveu um poema como se eu fosse teu Deus maçonico
Me revelou os búzios jogados como se eu fosse sina poética
Me leu as cartas em braile embaralhadas no nosso encontro
Me abriu os olhos para você enxergar as águas turvas do mar
Ligou a cobrar como se eu fosse a última ficha de um orelhão
Me tocou a alma como se eu fosse tremer por um segundo
Debruçou os braços cheirando creme de frutas verdes sobre as janelas do meu peito acidentado pelo coração teu
Quando o outono fez Sol nos seus olhos
de ressaca.

 

FELIPE RIBEIRO

 

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