Eu queimei o cabelo
Pra levar o copo de café
A boca
Com o cigarro entre os dedos

Sentei e vi o céu
Cair
Vermelhidão
Desbotando
Até
Desaparecer
…

As janelas
Dos olhos dela
Duas paredes abissais
Para o infinito completo
De estrelas
Entre linhas

Não era Cartola
Nem tom Chopin
Tinha Cícero
Inventando amor
Com as canções de amor

Era amargo
Adoçado
Apenas no interior dos lábios

Abraços de estranhos
Transcrevendo palavras
Nas minhas costas
Desenhos interligando
Pintas a manchas
De nascença

Eu silêncio
Ela sussurro
Vento entre folhas,
Barcos em cima das árvores

Interlocutores gritando
Na Rondon, os carros entediados
Esquentando os motores
Atravessando a chuva,
A rua, minhas vistas turvas
E nada mais disso já importam
Para as comadres
Nas janelas

Fechadas

Sono interrompendo
Falácias, letreiros sobre os rostos
Manchados
De vermelho

Os dedos sobre a máquina
Dedilhando canções
Escrevendo romances
Falando palavrões

Mas eu não tenho um barco, disse a árvore

Então deixemos o que se conserta sozinho.
Só diz eu te amo
Numa ligação a cobrar
E fecha as mãos nas minhas

Diga eu te amo
E brilha os olhos as três da manhã

Segura meu punho

Não me deixa correr
E canta canções de liberdade

Na rua
No centro
Na praça da Tubal
Falando com bêbados pela manhã
Sobre religião

Mas assim ninguém te entende
Mas assim, ninguém descobre
Então conta
Cochicha que esse mês
Faz 19
Aniversário sem festa, sem bolo
Sem polaroids
Sem graça.

Vagalumes brigando na porta do bar
Raposas pelos bueiros
Ratos nos escritórios
Cristo na Time Square

E a gente?
Na rua fazendo folia
Segurando a mão das moças
Com poetas bêbados
Nas suas juras de amor

Esse foi meu ano
Obrigado a todos
Que ouviram
E se esconderam da chuva
Comigo
Na porta do mercado

Escrevendo nos muros
Nos banheiros
Cigarros apagados
Dias chatos
Meios minutos
Ainda
Mal
Contados

Na festa do viver
Todo mundo dança
Descalço.

 

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