Com texto de Eduardo Rieche, direção geral de Leonardo Karasek, produção executiva e artística de Rita Tele, É Samba na Veia, é Candeia conta a trajetória de Antônio Candeia Filho (1935/1978), mais conhecido como Candeia. A peça, que esteve em cartaz no Teatro Oficina (18/10 a 9/11), recebendo cerca de 2.000 pessoas, retorna para segunda temporada no Teatro Oficina entre 17 de fevereiro e 18 de março.
Encenado no entorno de uma roda de samba ambientada na trajetória do artista entre as décadas de 60 e 70, o musical foi encenado pela primeira vez no Rio de Janeiro, em 2008. As duas montagens evidenciam a genialidade do compositor carioca, bem como destaca a contemporaneidade de suas letras e de seu pensamento.
A montagem paulista recebeu uma enorme aceitação do público, que lotou todas as apresentações. Atriz e produtora executiva do espetáculo, Rita Teles acredita que, além da questão do tema e dos cuidados com a montagem, a peça se fortaleceu muito por evidenciar o protagonismo da cena cultural independente, bem como pela representatividade de um elenco e de músicos majoritariamente oriundos do samba, das artes e de movimentos sociais afirmativos, principalmente o feminista e o movimento negro.
Para o diretor, Leonardo Karasek, o espetáculo defende o protagonismo de artistas negros que são a parcela majoritária na formação do elenco. Para ele, “É Samba na Veia, É Candeia” ultrapassa as definições de um musical e se encaixa, perfeitamente, como uma peça biográfica. “O cenário reforça todo o simbolismo da trajetória de Candeia como homem negro e crítico social. A estruturação da montagem reforça o sentido da imersão do público no universo do compositor. E, nesse caminho, fazemos um convite para a releitura do mundo nos olhos de Candeia, com todas suas facetas e vivências como corpo e voz de movimento e atuação política por meio do samba”, diz.
O ator Marcelo Dalourzi interpreta Candeia com maestria e paixão. Os aspectos cotidianos da vida do músico, a utilização do samba como instrumento de resistência cultural da população negra do subúrbio carioca e a sua maneira singular de compor sobre os amores, as vicissitudes da vida e seu estilo musical sem perder a possibilidade de contestar males sociais como o racismo e apropriação cultural ganham destaque na encenação.
A direção musical é de Edinho Carvalho, compositor, pesquisador e responsável pela direção harmônica e melódica do Projeto Samba de Terreiro de Mauá, que faz todo o acompanhamento musical do espetáculo. A trilha sonora tem arranjos e também direção do músico Abel Luiz.
“Pintura sem arte”, “Testamento de Partideiro” e de “De Qualquer Maneira” são alguns dos sambas que compõem a vasta discografia de Candeia e integram o espetáculo. A trilha também conta com canções que, exaltadas na voz de outros célebres sambistas, como “Preciso me Encontrar”, consagrada por Cartola, ícone da Estação Primeira de Mangueira; “O Mar Serenou”, eternizada pela cantora e madrinha da Velha Guarda Musical da Portela, Clara Nunes, interpretada na peça por Suelen Ribeiro; e “Dia de Graça”, defendida pela voz de Elza Soares, interpretada por Josi Souza.
Outros temas do espetáculo são composições dos habituais parceiros de Candeia, como “Riquezas do Brasil”, de Waldir 59; “Me Alucina”, de Wilson Moreira; “Falsas Juras”, de Casquinha; e “Coisas Banais”, de Paulinho da Viola. O espetáculo conta, ainda, com a coreografia do ator e dançarino Jefferson Brito e participação da cantora Sueli Vargas.
Para Rita Teles, “É Candeia, É Samba na Veia” exerce papel fundamental na releitura do compositor como crítico dos mecanismos de apropriação cultural dos valores e processos históricos de identidade negra. “Candeia, quando funda o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo com Wilson Moreira e Paulinho Viola, posiciona-se para além da música. Ele não somente se coloca contrário ao processo de industrialização cultural do samba, como o enxerga como uma ilha de resistência de valores identitários negros diante desse processo. E, no palco, este lado do poeta Candeia, idealista e ativista se faz presente”, conta.
COMPANHIA ALVORADA
É uma companhia recém-criada pelo diretor Leonardo Karasek. Tem o objetivo de pesquisar o sentido literário e filosófico dos textos e das palavras. Trabalhar além das formas cênicas, priorizando o sentido das palavras e situações, voltar a valorizar a história, o mito, a reflexão sobre a condição humana. Seus grandes ídolos são os grandes produtores de saber intelectual no teatro e na literatura, como Stanislavsky, Tchekhov, Ibsen, Shakespeare, Brecht, Moliére, Balzac, Proust, Dostoievsky, Machado de Assis. O trabalho da companhia ainda inclui a pesquisa e inserção de temas brasileiros nas montagens, como o samba, o choro, o forró, o candomblé, o carnaval e as festas populares, além da defesa de pautas de direitos humanos, como o fim dos preconceitos de qualquer espécie e o combate à desigualdade social no Brasil.
NÚCLEO COLETIVO DE ARTES
Desde sua concepção, dedica-se à produção de eventos educacionais e acadêmicos. A partir de 2014, os proponentes passaram a se dedicar exclusivamente à área artística, oficializando suas novas atividades em 2017, após a mudança de seu objeto e atividade principal da empresa. Com foco em questões que envolvem a diáspora africana no Brasil, o coletivo produziu os seguintes trabalhos: Seminário Internacional “Fronteiras em Movimento” – CCBB (2012), Intolerância Solidariedade no Mundo Contemporâneo – CCBB (2004), Seminário “A Morte & A Vida em Debate” – CCBB (2006). Participou na produção de eventos com o Grupo de Articulação Política Preta (2016/2017), Mulheres Negras em Marcha (2017), Projeto “Oficinas de Vivência Teatral” – Fundação Julita (Desde 2014), Escola Nacional de Teatro (2015/2016), Secretaria Municipal da Cultura – SP (2017). Em termos de produções artísticas, as peças “Vênus de Aluguel” (2014), “Contando África em Contos” (desde 2016) e, atualmente, “É Samba na Veia, É Candeia”.
PROJETO SAMBA DE TERREIRO DE MAUÁ
Fundado em 2002, o conjunto é composto por 13 integrantes. Todos tocam, cantam, pesquisam e dirigem os eventos. Eles mantêm uma sede própria na cidade de Mauá, o Centro Cultural Dona Leonor, no qual promovem rodas de samba, saraus, formações e eventos culturais, além de ser sede do Bloco de Samba “Pega o lenço e Vai”, que tem como objetivo trazer a história do negro no Brasil por meio de sambas inéditos. Em geral, executam seus concertos de forma acústica, sem amplificadores, com o objetivo de se aproximar da forma tocada no passado.
É Samba na Veia, é Candeia
Temporada: de 17/2 a 18/3
Dias e horários: sábados, às 20h; domingos, às 19h
Duração: 2h30 (aproximadamente)
Classificação etária: 12 anos
Onde: Teatro Oficina Uzyna Uzona
Endereço: Rua Jaceguai, 520 – Bixiga – São Paulo/SP
Ingressos: R$ 40 inteira; R$ 20 meia (idoso, estudante e classe artística) e R$ 10 para moradores do Bixiga
Canais de venda:
Digital: www.sympla.com.br
Físico: Boutique do Carnaval (Rua Barão de Itapetininga, 88 – Centro SP)
Acessibilidade: o local conta com bilheteria acessível e uma cadeira de rodas disponível para uso
Capacidade: 150 pessoas
Estacionamento: não possui
Ficha técnica
Texto: Eduardo Rieche
Direção: Leonardo Karasek
Direção Musical: Edinho Carvalho e Abel Luiz
Arranjo Musical: Abel Luiz
Preparação Vocal: Daisy Cordeiro
Coreografia: Jefferson Brito
Produção: Núcleo Coletivo das Artes Produções
Figurino: Gabriela Rocha
Cenário: Raifah Monteiro
Iluminação: Luana Della Crist
Ilustração: Bruno Will
Técnico de som: Pedro Romão
Fotos: Osmar Moura
Criação Gráfica: Zeca Dâmaso
Assistente de Direção: Augusto Vieira
Assessoria de Imprensa: Baobá Comunicação, Cultura e Conteúdo
Plano de comunicação virtual: Eduardo Araújo
Elenco:
Danilo Ramos (David do Pandeiro, Claudionor, Edgar)
Denise Aires (Leonilda)
Jair de Oliveira (Candeia Pai, Locutor da apuração, Homem 1)
Jefferson Brito (Waldir 59, Armando, Mestre sala Quilombo e encerramento, Picolino, Jorge Coutinho, Mauro)
Jose Nelson Junior (Mazinho, Seu Neco, Seu Teco)
Josi Souza (Elza Soares, Dona Maria, Médica)
Leo Dias (Casquinha, Zé com fome)
Marcelo Dalourzi (Candeia)
Rita Teles (Firmina, Apagado, Porta Bandeira da Quilombo)
Suelen Ribeiro (Clara Nunes, Pequena, Prostituta 2, torcedora Portela, diretora artística)
Sueli Vargas (Manoel, Narrador, Dona Benvinda)
Viviane Clara (Prostituta 1, torcedora Portela, Porta Bandeira Encerramento)
Wallace Andrade (Brêtas, Homem 2, Argemiro, João Chapeleiro)
Músicos:
Brito da Cuíca (cuíca)
Danilo Ramos (tamborim)
David Silveira (cavaquinho)
Didi Carvalho (surdo e percussão geral)
Eder Ventura (cavaquinho)
Edinho Carvalho (cavaquinho)
Hosana Meira (tamborim)
Jader Morelo (pandeiro e percussão geral)
Jefferson Motta (violão de 7 cordas)
Leo Dias (tamborim e pandeiro)
Marcelo Glick (atabaque e percussão geral)
Marlene Oliveira (prato e faca)
Ocimar Dias (agogô)
Ronaldo Nunes (bandolim)
Performance:
Dan Rodrigo (representando Orixás)