O quarto disco do músico norte-americano une quinteto de sopros e violão a ritmos brasileiros como samba, chorinho, baião e maracatu
Está disponível nas principais plataformas digitais o novo disco de Benji Kaplan, Chorando Sete Cores, em que a música brasileira ganha roupagem erudita com influências de estilos neoclássico, romântico e impressionista. Ritmos brasileiros como maracatu, samba, baião, choro, bolero e maxixe são apresentados no violão com o colorido dos instrumentos de sopro, com Anne Drummond nas flautas transversais em dó e em sol, Remy Le Beouf, no clarinete e clarone, e David Byrd-Marrow, na trompa.
As 13 faixas de Chorando Sete Cores convidam o ouvinte a experienciar a música brasileira de forma única, na qual o violão se despe do protagonismo e se funde à sonoridade do quinteto de sopros, formando um conjunto em que cada elemento é essencial para a narrativa. Mais que uma sucessão de peças individuais, o álbum se apresenta como uma jornada contínua que mescla cenários estadunidenses e brasileiros, em arranjos elaborados que evidenciam a musicalidade e o alto nível técnico dos instrumentistas.
“Nesse disco procurei expandir os limites dos seis instrumentos, explorando não apenas texturas e possibilidades harmônicas, como também grooves e ritmos”, conta Benji. Mesmo sem percussão ou instrumentação típica de choro, o compositor comenta que “há momentos em que se ouve a batida de um cavaquinho ou bandolim tocado pelo quinteto de sopros”. O nome do disco remete ao pássaro brasileiro saíra-sete-cores, cujo canto inspirou o compositor norte-americano a compor a faixa-título do trabalho. A palavra “chorando”, aqui, também faz referência ao gênero musical, e o número sete se relaciona tanto com pássaro quanto com os sete elementos do disco – os seis instrumentistas e a composição em si.
As quatro primeiras peças do disco abordam a jornada pessoal de Kaplan, com referências à sua cidade natal, Nova York, e às tradições musicais brasileiras. “Bryant Park”, composta a partir de padrões ascendentes e descendentes liderados pela trompa, é um passeio sincopado e brincalhão pelo parque novaiorquino. Passando pelo centro da cidade, “At the Vanguard” faz referência ao famoso clube de jazz, com o clarinete à frente do arranjo, apresentando desenhos cheios de voltas e reviravoltas inesperadas.
Chegando ao Brasil, vemos em “Canção de Ninar (Berceuse)” um foco maior no violão, que entoa um tema delicado com referência barroca, pontuado por momentos de maior veemência. A emoção atinge novos degraus na próxima cena da jornada, em “Trenzinho para Lapa”, na qual a musicalidade tradicional brasileira é envolta por um entusiasmo enérgico e alegre.
As próximas cinco músicas levam o ouvinte, agora plenamente consciente da atmosfera de Chorando Sete Cores, a viver uma intensificação deste enredo. “Familiar Strangers” apresenta uma trama complexa com picos e vales de explosões auditivas, enquanto “The Wind” exibe padrões rítmicos variados, com os instrumentos de sopro girando ao redor do violão.
“A Joyful Stroll”, cuja tradução significa “um passeio alegre”, denuncia a identidade novaiorquina do compositor – apenas alguém nascido em uma megalópole chamaria a excursão melódica vertiginosa, com linhas rápidas e muitas vezes beirando o descontrole, dessa forma.
A faixa-título do disco começa com desenhos ascendentes e descendentes no violão, que ecoam no clarinete, clarone e flautas sobre uma cama entoada pela trompa. O resultado é um jogo de perguntas e respostas que encanta tanto pela concepção quanto pela execução. Encerrando esse bloco, “A Happy Sadness” evidencia melodias na flauta e, como sugere o título (“uma tristeza alegre”), traz uma mistura complexa de contrastes emocionais – melodias que beiram a melancolia entrelaçadas por uma alegria cintilante.
Chegando ao clímax dessa jornada, as três próximas músicas trazem um desenvolvimento agitado e cativante. “A Trickster’s Bolero” é um passeio por imagens vibrantes e texturas luminosas. “Coisa Carioca (A Carioca Thing)” apresenta uma alternância entre momentos de solos violonísticos com a força do conjunto, culminando em uma construção de identidade unificada entre todos. Como uma bebida efervescente após o jantar ou uma observação leve e engraçada, o breve “Samba para Django” vem com melodias em uníssonos de diferentes instrumentos, propondo combinações que se assemelham a uma espirituosa conversa.
E para encerrar essa excursão musical, “Leaves in the Wind” oferece uma rica tapeçaria de cores e texturas, traduzida como um abraço caloroso que despede o ouvinte desse passeio, permitindo com que ele abaixe suavemente a frequência vibratória para refletir sobre o que acaba de ser experimentado.
Benji Kaplan
Guitarrista, violonista, arranjador, cantor e compositor norte-americano, Benji Kaplan nasceu em 1985 e foi criado na cidade de Nova York. Filho de pai cubano com ascendência russa-judaica e mãe austríaca, Benji ouvia dentro de casa vários tipos de música, oriundas dos países de seus pais e também do Oriente Médio, música ladina (por parte do avô judeu espanhol), música brasileira e africana. Ele se recorda ainda muito pequeno dos pais colocando discos de Clara Nunes, Hermeto Pascoal, Tom Jobim, Dorival Caymmi, Canhoto da Paraíba e muitos outros na vitrola de sua casa.
Benji começou a se interessar por violão aos 11 anos de idade, quando viu um colega na escola tocando. Com 15 anos começou a tocar profissionalmente nos clubes e eventos em NY. Aprendeu nesse período também a tocar alguns choros e bossas de Tom Jobim até que, aos 17 anos, finalmente viajou para o Brasil e intensificou o relacionamento com a música brasileira, adquirindo o que chama de “um entendimento espiritual dessa música no seu coração”.
De volta aos EUA, Benji ingressou na Universidade New School em Manhattan, onde estudou e tocou jazz com vários músicos, incluindo Benny Powell, Buster Williams, Rodney Jones, Vic Júris e Barry Harris, entre outros. Foi neste ano de 2004, aos 18, que descobriu um disco do compositor brasileiro Guinga numa loja de discos em Manhattan, responsável por provocar uma profunda mudança na sua paisagem musical.
Benji começou a compor aos 20 anos. Fez choros, baiões, standards do jazz, valsas, modinhas e outros gêneros, arriscando suas próprias letras em português. Elaborando as harmonias, ele cruzava influências do jazz, da bossa, da MPB e da música clássica. Durante a faculdade, aprendeu a tocar os solos das grandes lendas do jazz, como Wes Montgomery, Sonny Rollins e Lester Young. No dia-a-dia, aprendia a tocar e cantar músicas de Tom Jobim, Chico Buarque, Noel Rosa, Ernesto Nazareth, Zé Keti, Dorival Caymmi e Guinga, entre outros. Foi essa mistura de diversas influências que formou o seu estilo próprio de tocar, cantar e compor.
Atualmente, possui parcerias e colaborações com diversos artistas brasileiros, incluindo Makely Ka, Pedro Dias Carneiro, Rita Figueiredo, Sergio Krakowski e Luiz Simas. Kaplan já tem três álbuns aclamados – Meditações no Violão, um álbum solo com diversos estilos, ritmos e maneiras de tocar violão solo incluindo choros, baiões, modinhas e outros ritmos num estilo muito próprio; Reveries em Som, um álbum de duetos com o notável flautista Anne Drummond; e Uai Sô, uma obra-prima com conjuntos variados que explora profundamente a amplitude da sua composição e organização. Com Chorando Sete Cores, ele dá um passo adiante em sua visão singular, combinando um quinteto de sopros ao seu virtuoso violão.
Dentre seus videoclipes, produzidos por sua esposa Rita Figueiredo, destacam-se “A gente se manifesta”, que ganhou o selo de seleção de vários festivais no mundo, Oaxaca Sports Film Festival, Los Angeles CineFest, Indian Music Video Awards, 29 Girona Film Festival, Hope Film Awards, we manifest ourselves, TMC London Film Festival, MusiCanZone FilmFest e Near Nazareth Festival (NNF); e “Fuga de Alcatraz”, que ganhou o prêmio de Melhor Videoclipe no Cinemafest em NY, melhor animação no NYC Indie Festival e é semifinalista do Los Angeles Cinefest.
28/02 | 21h | R$20 antecipado, R$40 na porta
Teatro da Rotina
Rua Augusta, 912 – Consolação – São Paulo
Capacidade: 50 lugares
Duração do show: 90 minutos