Ao todo, são 11 livros do escritor francês que voltam às prateleiras
Filósofo do absurdo, da falta de sentido da vida, Albert Camus é considerado um dos mais importantes autores do século XX. Nascido na Argélia, quando o país ainda era colônia francesa, o escritor reflete em suas obras seu estranhamento com a vida, com a guerra, que vitimou seu pai, e, sobretudo, com a própria condição humana.
Desde julho de 2017, o Grupo Editorial Record lança novas edições dos livros do escritor, que venceu o Nobel de Literatura em 1957 com apenas 44 anos e morreu pouco tempo depois, em 1960, num acidente de carro na Borgonha.
No ano passado receberam novos projetos gráficos “O estrangeiro”, “A peste”, “A queda”, “O homem revoltado” e “Diário de viagem”. Agora chegam às livrarias as novas edições de “O avesso e o direito”, “O exílio e o reino”, “A inteligência e o cadafalso”, “A morte feliz”, “O mito de Sísifo” e “Estado de sítio”.
Albert Camus foi um jornalista, filósofo e escritor francês nascido na Argélia. Seus trabalhos contribuíram com o crescimento da corrente de pensamento conhecida como absurdismo.
O MITO DE SÍSIFO
Albert Camus publicou “O mito de Sísifo” em 1942. Este ensaio sobre o absurdo tornou-se uma importante contribuição filosófico-existencial e exerceu profunda influência sobre toda uma geração. Camus destaca o mundo imerso em irracionalidades e lembra Sísifo, condenado pelos deuses a empurrar incessantemente uma pedra até o alto da montanha, de onde ela tornava a cair, caracterizando seu trabalho como inútil e sem esperança. O autor faz um retrato do mundo em que vivemos e do dilema enfrentado pelo homem contemporâneo: “Ou não somos livres e o responsável pelo mal é Deus todo-poderoso, ou somos livres e responsáveis, mas Deus não é todo-poderoso.”
O AVESSO E O DIREITO
Albert Camus tinha apenas 22 anos quando publicou, na Argélia, “O avesso e o direito”, conjunto de cinco peças que ele classificou como “ensaios literários”. Já estão ali o estilo poético que é sua marca registrada e a preocupação com alguns temas essenciais, como o amor ao Mediterrâneo, a solidão do homem em meio ao abandono e o absurdo da condição humana. Francês da Argélia, Camus recebeu a luz do Mediterrâneo como um dom de vida, expressa numa escrita nobre, um pouco à espanhola, mas com registro variado.
Mais do que negar Deus, naqueles anos de juventude, desinteressou-se dele. Quando amadureceu na reflexão, compreendeu que o homem é o valor capital e relegou Deus às ideias-fábulas dos poetas. Mais tarde, ao romper com os existencialistas, denunciou os regimes totalitários (sobretudo os de esquerda) e proclamou, no Discurso da Suécia, ao receber o prêmio Nobel, que “o escritor não pode se colocar a serviço daqueles que fazem a História; ele está a serviço daqueles que a sofrem”. O avesso e o direito é uma leitura fundamental para uma compreensão mais abrangente da vida e da obra de Camus.
O EXÍLIO E O REINO
Uma coletânea de contos que têm em comum o tema universal da fraternidade humana e suas dificuldades. De um dos mais importantes e representativos autores do século XX e Prêmio Nobel de Literatura. Tanto por sua diversidade quanto pelo caráter universal das indagações, “O exílio e o reino” é possivelmente a obra que melhor retrata as questões que acompanharam Albert Camus durante sua vida. Este livro traz seis contos ambientados em diferentes partes do mundo, nas quais são abordadas as mais variadas formas de exílio: o do próprio corpo, o gerado por conflitos entre os homens, o que se constitui na fé, entre outros.
O ESTADO DE SÍTIO
Lançada originalmente em 1948, “Estado de sítio” se passa em uma pequena cidade litorânea, assolada pela peste e dominada pelo medo. Para Camus, o medo era o mal do século XX e, por isso, ele o utiliza como o fio condutor desta obra, que, para muitos críticos, é uma alegoria da ocupação, da ditadura e do totalitarismo.
Nesta edição, foram reunidos um prefácio de Pierre-Louis Rey, documentos históricos, entrevistas, uma nota assinada pelo autor sobre a peça e um testemunho de Jean-Louis Barrault, contando a história de sua colaboração com Camus para a composição e encenação de Estado de sítio, e analisando as razões do seu fracasso.
A edição apresenta, ainda, críticas à peça, encenada pela primeira vez em 27 de outubro de 1948, pela Companhia Madeleine Renaud-Jean-Louis Barrault, no Théâtre Marigny, com direção de Simmone Volterra e resposta de Camus à crítica, reunindo, assim, tudo que já foi dito sobre a peça, que foge do realismo, abre o horizonte cênico e dá toda a liberdade ao diretor.
A INTELIGÊNCIA E O CADAFALSO
Publicado em 1943, pouco depois de O estrangeiro, “A inteligência e o cadafalso” condensa o percurso literário e ensaísta de Camus. A partir daí, sua obra se desdobra em personagens e em raciocínios concêntricos: o absurdo, a gratuidade, a culpa, o gozo e a beleza encarnam sua concepção do homem.
Nos textos deste livro, é possível reconhecer as engrenagens do absurdo. Trata-se, enfim, de uma mitologia pessoal, projetada em suas leituras, nas reflexões sobre a linguagem e sobre a literatura que podem redimensionar o alcance de sua obra como um dos marcos da literatura do século XX.
A MORTE FELIZ
Em “A morte feliz”, Albert Camus retrata a busca pela felicidade, assim como a aceitação, o entendimento e a consciência da morte. O autor acredita que, para conquistar a felicidade, é necessário ser independente, livre, mas também ter dinheiro; a pobreza é a condição que impede a vida feliz. Esta obra foi o trabalho precursor de seu livro mais famoso, O estrangeiro. O protagonista Patrice Mersault de “A morte feliz” tem características muito semelhantes a Meursault de “O estrangeiro”, ambos são franco-argelinos e levam uma vida difícil em uma sociedade indiferente.