A atriz apresenta, em minitemporada no instituto, a peça com texto de Sófocles pela qual recebeu o Prêmio APCA de Melhor Atriz em 2017. Andréa participa, ainda, do Camarim em Cena, conversa realizada no instituto e aberta ao público sobre os bastidores do teatro

Antígona (Foto de Matheus José Maria)
Nos dois últimos finais de semanas de março, o Itaú Cultural recebe a atriz Andréa Beltrão para uma dupla programação teatral. Dando continuidade à proposta de realizar minitemporadas de peças e shows, o instituto apresenta de 23 a 25 de março e de 30 de março a 1 de abril (sextas-feiras, sábados e domingos) a peça Antígona, texto de Sófocles traduzido por Millôr Fernandes com direção de Amir Haddad, protagonizado por Andréa Beltrão e com dramaturgia de ambos. No dia 30, às 16h, a atriz participa, ainda, da primeira edição do ano do Camarim em Cena, ação na qual artistas compartilham com a plateia suas experiências antes de subir ao palco. A mediação é da crítica teatral Maria Eugênia de Menezes, do site Teatro jornal.
Estreada em 2016, a peça Antígona traz Andréa Beltrão como a personagem-título da trama: uma jovem princesa que enfrenta a ordem do rei Creonte de deixar seu irmão, que lutou na guerra, sem sepultura. Ao desobedecer a determinação real, ela paga com a própria vida. É estabelecido, então, o confronto entre o Estado e o cidadão.
A história se passa em Tebas e foi escrita há 2.500 anos por Sófocles. Fez tanto sucesso na época que o público ateniense ofereceu ao autor o governo de Samos, uma das ilhas gregas. Na Antígona de Haddad e Andréa, ao contrário do autor original, que partiu do mito já conhecido para o teatro, parte-se do teatro para chegar ao mito que dá nome ao espetáculo.
“Todos esses mitos que povoavam o imaginário grego, como Antígona, faziam parte do dia a dia do povo, funcionavam como um bem público”, analisa o diretor assinalando que, quando o teatro se estabeleceu, naquele tempo, como uma forma de expressão artística, todos já conheciam o que seria representado. “Sófocles se apoderou da história e escreveu esse texto. O que Andréa e eu fizemos foi partir das informações da peça para chegarmos ao mito.”
Na opinião da atriz, um texto clássico, como este ou qualquer peça de Shakespeare, não é de interpretação complicada. As narrativas embaralham as emoções por ir direto ao coração, à memória, e aos sentimentos. “Como um texto escrito há 2.500 anos pode falar exatamente sobre o que eu sinto agora? Não é a gente que lê o texto da tragédia grega, é a tragédia grega que lê a gente, por isso não precisamos ter medo de não entende-la. Faz parte de nós, enriquece, questiona, exige que tentemos mais uma vez”, analisa.
Para ela e o diretor, essa montagem transpira atualidade gigantesca. “Fala da liberdade do cidadão diante do poder do Estado, e de como isso atinge a vida mais ancestral do ser humano”, observa Haddad. “A peça se dá nessa reflexão feita por ator e público sobre a história, por meio de uma excelente narradora, que é a Andréa”.
Em diálogo com a plateia em ritmo acelerado, conectado ao movimento do mundo contemporâneo, a atriz se utiliza de recursos mínimos, como uma echarpe vermelha ou um casaco, para desenrolar a trama e, assim, ir povoando o palco com os personagens interpretados por ela mesma. Andrea os apresenta, quase que didaticamente, antes de representa-los, permitindo ao público adensar o seu conhecimento da história e traçar paralelos com a atualidade.
Igualmente, a cenografia apresenta linguagem moderna e reforça a atuação da artista entre os atos de narrar e representar este mito, em cenas que se desenvolvem diante de uma espécie de árvore genealógica, em forma de mural. Uma cadeira, uma escada, uma mesa e um amplificador para o som com microfone, complementam o cenário. A proposta é restaurar a força popular do teatro.

Antígona (Foto de Matheus José Maria)
No camarim
No dia 30 (sexta-feira), às 16h, o Itaú Cultural recebe Andréa no primeiro Camarim em Cena de 2018. Com mediação da jornalista especializada em teatro Maria Eugênia de Menezes, a atriz conversa com o público sobre o momento que antecede o ato de entrar no palco e sobre sua carreira, iniciada no Teatro Tablado, em 1978.
Maria Eugênia é crítica teatral, formada em jornalismo pela USP, com especialização em crítica literária e literatura comparada pela mesma universidade. Editora do site Teatrojornal – Leituras de Cena e colaboradora do Caderno 2, do jornal O Estado de S. Paulo, escreveu sobre artes cênicas para Folha de S.Paulo entre 2007 e 2010, e foi curadora de programações como o Circuito Cultural Paulista, e membro do júri de prêmios como Prêmio Bravo! de Cultura e o Prêmio Governador do Estado de S.Paulo.

Antígona (Foto de Matheus José Maria)
Amir Haddad é diretor e professor de teatro, diversas vezes premiado. Considerado um dos maiores encenadores do Brasil, o criador do Grupo Tá na Rua, iniciado em 1980, leva a arte do teatro para o espaço aberto das ruas e praças, ressaltando a importância das comemorações populares na vida social e cultural das cidades. Amir Haddad recupera para o teatro o seu sentido de festa popular, dela resgatando sua dramaticidade.
Reconhecido internacionalmente, desenvolve uma série de atividades didáticas nas artes cênicas como oficinas, seminários e cursos. É criador de um teatro preocupado em se comunicar e se tornar cada vez mais próximo de sua plateia.
Como resultado de suas pesquisas e investigações, nestas áreas do teatro, desenvolveu ferramentas eficientes para a construção de um ator que responda ao sentimento contemporâneo, ao mesmo tempo em que o instrumentaliza para uma leitura aguda e profunda da trajetória humana e da dramaturgia produzida pelo teatro em todos os tempos. Entre seus últimos trabalhos estão A Mulher Invisível, de Maria Carmem Barbosa, A Mulher de Bath, de Geoffrey Chaucer, A Tempestade, de William Shakespeare, e Antígona, de Sófocles.
Andrea Beltrão iniciou sua carreira no Teatro Tablado em 1978, interpretando o personagem João Grilo, da peça O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. No início da década de 1980, integrou grupos teatrais e em 1984 estreou na novela Corpo a Corpo, de Gilberto Braga seguindo na TV Globo em sucesso como Rainha da Sucata (1990), de Sílvio de Abreu, Pedra Sobre Pedra (1992), de Aguinaldo Silva, Mulheres de Areia (1993) e A Viagem (1994), ambas de Ivani Ribeiro, Vira Lata (1996), de Carlos Lombardi e Era Uma Vez (1998) de Walter Negrão.
Ainda na TV, fez diversas participações em séries e especiais, como Armação Ilimitada (1985-1988), Comédia da Vida Privada (1997) e Brava Gente (2000). Entre 2002 a 2009, integrou o elenco do seriado A Grande Família, interpretando a cabeleireira Marilda. Também participou da minissérie Som & Fúria (2009) e das séries O Bem Amado (2011) e Tapas & Beijos (2011-2015), com a personagem Sueli.
Estreou no cinema com o filme Bete Balanço (1984), de Lael Rodrigues. Sua atuação na tela grande inclui também os filmes Garota Dourada (1984), de Antonio Calmon, O Coronel e o Lobisomem (2005), A Grande Família – O Filme (2007) e Verônica (2009), dirigidos pelo cineasta Maurício Farias, Cazuza – O Tempo não Para (2004), O Bem Amado (2010), O Penetras (2012), Chatô, o Rei do Brasil (2015), Sob Pressão (2016) e Sueño Florianópolis e Albatroz, a serem lançados em 2018.
No cinema, recebeu premiações em festivais nacionais por seu desempenho em O Escorpião Escarlate (1986) e Minas-Texas (1989). Pelo teatro, venceu o Prêmio Shell de Melhor Atriz pela peça A Prova (2002), dirigida por Aderbal Freire Filho, em 2008 mereceu novamente a premiação, desta vez por sua atuação, ao lado de Marieta Severo, na peça As Centenárias, de Newton Moreno.

Antígona (Foto de Matheus José Maria)
Ficha Técnica
Autoria: Sófocles
Tradução: Millôr Fernandes
Dramaturgia: Amir Haddad e Andrea Beltrão
Direção: Amir Haddad
Com: Andrea Beltrão
Iluminação: Aurélio De Simoni
Figurino: Antônio Medeiros
Direção de Movimento: Marina Salomon
Cenário e Projeto Gráfico: Fabio Arruda e Rodrigo Bleque
Desenho de Som: Raul Teixeira
Operação de luz: Diego Diener
Camareira: Conceição Telles
Administração: Laura Gonsalves
Mídias Sociais: Nicolle Meirelles
Produção Executiva: Ricardo Rodrigues
Direção de Produção: Carmen Mello
Produção: Boa Vida Produções
Realização Turnê: Trigonos Produções CulturaisAntígona
Com Andréa Beltrão
Dias 23, 24, 30 e 31 de março (sextas-feiras e sábados), às 20h
Dia 25 de março e 1 de abril (domingos), às 19h
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos (possui cenas de violência e suicídio)
Sala Itaú Cultural (224 lugares)
Com interpretação em Libras
Camarim em Cena com Andréa Beltrão
Mediação: Maria Eugênia de Menezes
Dia 30 de março (sexta-feira), às 16h
Duração: 90 minutos
Classificação Indicativa: Livre
Sala Itaú Cultural (200 lugares)
Com interpretação em LibrasItaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Fones: 11. 2168-1776/1777
Acesso para pessoas com deficiência
Entrada gratuita
Distribuição de ingressos:
Público preferencial: 2 horas antes do espetáculo (com direito a um acompanhante)
Público não preferencial: 1 hora antes do espetáculo (um ingresso por pessoa)
Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108
Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:
3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.