Neste sábado (12), às 15h00, no Espaço Elementuá, em Salvador (BA), acontece o lançamento de Contações (Patuá), novo livro do poeta Tiago D. Oliveira. A obra desenvolve narrativas que assumem a estética de poemas para contar o que em muitos momentos se torna um híbrido de ficção e memória. São pequenas mitologias que se espraiam neste tempo para guardar personagens e temas que se fundiram ao imaginário no tempo e espaço de um país que é constantemente alcançado pela inversão de valores em sua violência habitual.
A escrita serve como ato de registro para guardar um tempo e moldes que alimentam a transformação de real para o lúdico, do lúdico para o real. São relatos, constatações, imaginações que contam enquanto assumem a poesia como direção. O Brasil é o pano de fundo do livro. Um país de outro tempo que grafa nas páginas deste livro uma tentativa para lembrar que ainda é possível a reinvenção do dia, da vida.
Tiago D. Oliveira nasceu em 1984, em Salvador-BA, é professor, poeta e escritor. Tem poemas publicados em blogs, portais, revistas e jornais especializados. Participou de antologias no Brasil e em Portugal, dentre elas: Contos nos is (Edições Ecopy, 2011, Portugal), Entre o sono e o sonho – tomo I e II ( Chiado Editora, 2013, Portugal), Entre o sono e o sonho (Chiado Editora, 2016, Portugal). Publicou Distraído, poesia (Editora Pinaúna, 2014) e Debaixo do vazio, poesia (Editora Córrego, 2016).
Leia um poema do livro Contações
Velha
não há nada
pelos caminhos
que te fortaleça
mais do que aquilo
que te fez partir.
seguir já não é
escolha, filho.
não siga o coração,
nem a cabeça, siga
o sol. vá e tome
três banhos de folha,
manhã, tarde, noite.
sopre o vento devagar,
que há de se respeitar
quem sabe mais do que nós.
*
não é só de flores
que vivemos, ninguém
vai comer flor, afinal.
bota os dois pés no chão.
pé mesmo, de estivador.
que não há riqueza maior
que pedir a benção
a pai e mãe
em qualquer tempo.
bom dia, seu tempo!
o tempo disse para o tempo:
tudo com o tempo tem tempo.
o tempo só não é bom
para quem não pode esperar.
quem espera
sempre alcança:
boa broca no ouvido
para aprender
a sair do lugar.
*
aqui, depois do centro,
tem gente boa e ruim.
que ninguém é só um nessa vida.
que tem gente que deita e dorme.
num não – que vejo e num calo.
rogo para as plantas.
que no balançar de um galho
resolvem de imaginar em nós
uma resposta para tudo.
que as folhas saem,
dá para ficar olhando
a maneira como elas caem.
que tem um riso em cair.
depois saber do vento para voar
de novo, todo o caminho contrário,
para cima, para frente –
que é para frente que se vai.
vai e toma dois banhos de folha:
para abrir pela manhã, outro
de noite, para os livramentos.
*
cai chuva. que não há
chance melhor do que esta.
de traz para frente, de frente para traz,
a veia é um rio de força e guerra.
solta as amarras, meu filho,
que a memória é um chão de afetos,
possibilidades e nada mais.
após a sopa / luz azul / reviver:
de traz para frente, de frente para traz,
a vida é osso / radar / ovo / arara / omissíssimo,
como o olhar falhando quando tinha duas mãos para dar.
e mesmo que nada aconteça,
não seja um manipanso de araque.
como este aí, pendurado
na parede da sala de estar.
★★★
Lançamento de Contações
Autor: Tiago D. Oliveira
Data: 12 de maio
Horário: 15h00
Local: Elementuá Espaço Coletivo (R. da Fonte do Boi, 05 – Rio Vermelho, Salvador – BA)