Vi pela primeira vez a palavra ganga no soneto Língua Portuguesa, de Olavo Bilac. Sylvia Batista, com seu jeito obstinado de minerar palavras, batizou seu livro com este título, Ganga, para contar histórias em que a morte e os medos são assuntos recorrentes.
Para desenvolver suas narrativas, a autora despreza a verborragia e opta pelo lacônico com sutileza e elegância. Frases curtas, mas com densidade de abismos e larguezas de planícies. Os textos são crônicas que se transformam em contos e contos que se vestem de poemas para apresentar a poesia incrustada no cotidiano dos personagens perturbados pelos incômodos do dia a dia.
Ganga, como nos explica a autora, é aquilo que se descarta, é a substância impura que envolve um mineral, seja pedra moída ou a casca impura do ouro. Ganga, neste livro, é o filho perdido, a filha odiada, a mulher sem direção, o homem desiludido e outros tantos personagens comuns pinçados com destreza pela autora para focalizar momentos incomuns de suas vidas desassossegadas.
Os diferentes medos aparecem nas páginas como se fossem vinhetas, destacando as inquietações do labirinto, do leão, do ascensorista, da memória, do monge, do livro, da boneca inflável, do astronauta, da mulher rendeira, da estrela do mar e do medroso. São como fundentes que se incorporam ao mineral dos textos para se eliminar a ganga. Funcionam como linhas que costuram a unidade dramática das narrativas: a morte e os medos.
Temos, então, como resultado, uma coletânea de textos estruturados em diferentes formas de diálogos, alicerçados em dramas que são narrados através de um estilo em que imperam figuras de linguagem, pintando com poesia as histórias que são contadas.
★★★
Jorge Antônio Ribeiro, paulista de Botucatu, sempre gostou de escrever poemas e de contar histórias. Em 2011 publicou o livro de contos Esses dias pedem silêncio, pela Editora Edith e já participou de diversas antologias. Escreve para gozar, no melhor sentido que este verbo possa ter.