
Egon Schiele
a casa escura, os pais dormiam, ela gostava deles assim
dormindo, lhe davam paz e ao mesmo tempo não estavam mortos.
acordada sua mãe falava alto, seu pai
fazia perguntas, você foi na lotérica? pagou a conta de luz?
e a cabeça dela querendo
apenas ser
casulo, o pescoço querendo o silêncio de uma floresta
já que o silêncio completo não existe, nunca atingimos o nível máximo de nada, nem do amor, nem da permanência, mas o som de uma floresta parece calmo o bastante, o som do vento encostando
nas folhas, nos pelos. ela deslizou
pelo escuro da sala
de all star e ainda morando
com a dona Neusa e com o seu
Adelino sempre tão conhecidos na feira de sábado não acredito
que sou filha dos meus pais.
daqui a pouco
eles estariam tão velhos que
ela não poderia mais
ir embora, teria que ficar
de enfermeira, sempre alguma coisa, algum trabalho que ela precisava fazer. também não tinha namorado
ou roupa preferida, encostou a porta do quarto, tinha livros, no entanto se houvesse um incêndio ela não choraria por nenhum.
não ter nada
era pra deixar seu corpo mais leve na cama, pois acontecia justamente o contrário, ela colocou a mão no rosto
com angústia, com vontade de
trocar de vida, deve ter alguma porta, deve ter
tanto mundo que nós humanos não enxergamos e que uma pomba por exemplo
enxerga, de repente ela percebe
o rosto da mãe na penumbra, toma um Susto
a dona Neusa pede desculpas, queria saber se você tinha chegado bem ao mesmo tempo que se ofende olha aqui, Marina, eu não sou nenhum fantasma.
★★★★★★
Leia os textos anteriores da escritora Aline Bei
★★★
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